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Padre Josafá Carlos de Siqueira, SJ, reitor da PUC-Rio, traça um paralelo entre a vida do santo e os conteúdos da Encíclica

José de Anchieta e a Laudato Si'
10/06/2016

No dia 9 de junho celebramos a festa de São José de Anchieta, este jesuíta canonizado pelo Papa Francisco, cuja vida e obra estão profundamente identificadas com a história de nosso Brasil. Como comemoramos também, no final de abril, um ano do lançamento da Encíclica Ecológica, Laudato Si’, faz-se necessário um paralelismo entre a vida do santo, e alguns conteúdos existentes no referido documento sobre o cuidado com a casa comum.

A visão integradora de toda a Criação, onde as questões sociais estão profundamente unidas com as questões ambientais, conforme nos fala a Laudato Si’ quando aborda a ecologia integral (LS.n.139), era algo que estava no horizonte de José de Anchieta quando em 1560 relatou os fenômenos físicos da natureza do Brasil, associando-os com a biodiversidade e os povos indígenas. Certamente esta visão sistêmica foi adquirida a partir de uma conversão ecológica, nascida de um mergulho apostólico de enculturação da fé na realidade local. Esta conversão, que é pessoal e comunitária, supõe uma espiritualidade que nos une a Deus, a natureza e a realidade, e com tudo o que nos rodeia (LS.n.216).

Nesta correlação, aparece a temática da ecologia cultural na Laudato Si’, que nos recorda a importância de prestarmos atenção às comunidades tradicionais e suas tradições culturais, onde a terra não é um bem econômico, mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam, sendo um espaço sagrado com o qual precisam interagir para manter a sua identidade e os seus valores (LS.n.146). Foi desta perspectiva que José de Anchieta percebeu e relatou em sua carta biogeográfica de 1560, como os povos indígenas no Brasil se relacionavam com os fenômenos da natureza, ventos, chuvas, raios, animais e plantas, integrando a diversidade cultural e ecológica. Esta relação entre ecologia e cultura era tão forte que ele chegou a afirmar que “existiam muitas outras coisas não narradas que são dignas de menção, e que nós, como inexperientes desconhecemos”. Os esforços em escrever uma gramática tupi-guarani, mostra o apreço pela cultura local, e o desejo de valorizar aquilo que ela tem de mais precioso no processo de comunicação com os outros e com o mundo circundante. Num pais como o nosso, onde a riqueza de culturas tradicionais e da biodiversidade é algo admirável e inquestionável, as mensagens de José de Anchieta e da Laudato Si’, nos convidam a valorizar mais este patrimônio cultural e ecológico, lutando contra toda forma de banalização e destruição desta dupla riqueza que o Criador colocou em nossas mãos para cuidar, guardar e preservar.

Um terceiro paralelismo entre José de Anchieta e a Laudato Si’, consiste na busca de um novo estilo de vida, “onde é possível necessitar de pouco e viver muito, dando espaços a outros prazeres como os encontros fraternos, o serviço, a música, a arte, o contato com a natureza e a oração”(LS.223). Ao vir para o Brasil, o apóstolo São José de Anchieta teve que mudar todo o seu estilo de vida europeu, passando a viver com poucas coisas, cultivando o diálogo e a convivência com os povos nativos, desenvolvendo a música e o teatro entre os índios, procurando servir de maneira incansável, adquirindo um novo olhar sobre a natureza rica e prodigiosa de nosso país, mantendo-se contemplativo na ação e cultivando a sua vida de oração como cristão, religioso e sacerdote. Esta busca em viver um novo estilo de vida, com mais qualidade e menos rodeada dos excessos de coisas que muitas vezes nos escravizam e não nos realizam em profundidade, é um apelo necessário para superar as feridas que provocamos em nós e na casa planetária comum. Que o testemunho de vida de José de Anchieta, e a exortação da Encíclica Laudato Si’ nos ajudem a galgar estes ideais, e a viver mais plenamente a nossa vocação de guardiões da Criação.

Pe. Josafá Carlos de Siqueira – Reitor da PUC-Rio          


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