Assembléia Universitária Relatório da Reitoria da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 2003
Autor: Padre Jesus Hortal
Relatório da Reitoria da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro 2003
16/12/2008

  

 

 

 

Rio de Janeiro, 17 de dezembro de 2003.

 

 

 

 

De:     Pe. Reitor

Para:  Membros da Assembléia Universitária

 

 

 

Meus caros colegas e colaboradores,

Uma vez mais, compareço perante a Assembléia Universitária, não só para cumprir um dever estatutário, ms também para, no encontro e na reflexão comum, pedir a ajuda de todos, a fim de continuarmos na construção da nossa Universidade. Mesmo que ela já tenha completado sessenta e três anos, está, como todo organismo dinâmico, em processo contínuo de construção e crescimento. Ficarmos parados seria tanto como retroceder ou degenerar. Os dados que apresentarei nesta sessão da Assembléia Universitária são demonstrativos de que, apesar de todas as dificuldades, não estamos parados; muito menos, retrocedemos. Devemos continuar sempre adiante, com ânimo redobrado, com esperança no futuro e com toda a confiança na ajuda de Deus que, palpavelmente, nunca nos faltou.

Ao completar mais um ano à frente da Reitoria da PUC-Rio, desejo expressar o meu agradecimento a todos os membros da Comunidade Universitária. Conto com todos, para prosseguirmos na nossa tarefa.

 

 

 

                                                                                              Pe. Jesus Hortal, S.J.

                                                                                                Reitor da PUC-Rio


RELATÓRIO DA REITORIA 2003

 

 

Srs. Professores,

Srs. Membros do Conselho de Desenvolvimento,

 

Mais um ano de lutas e esperanças, de dificuldades e de criatividade, de solidariedade e empenho comunitário. Assim poderíamos qualificar o ano que está para terminar. Já nos dois anos anteriores, alertei para os problemas que se avizinhavam e que, infelizmente, se avolumaram ao longo deste ano. O fato de a grande maioria das instituições universitárias de gestão não estatal, tanto no Rio de Janeiro quanto nas outras regiões do país, estarem atravessando dificuldades semelhantes e ainda maiores do que as nossas, não é nem consolo nem justificativa para os nossos tropeços, mas pode nos ajudar a compreender alguns dos fatores que influíram na nossa atual situação. Examinemos, pois, tais dificuldades.

 

Os nossos problemas conjunturais e as soluções tentadas

O primeiro e mais grave problema se relaciona com a maior fonte de receita da nossa Universidade, as anuidades recebidas dos alunos. Por força de lei, estamos obrigados a publicar um edital, anunciando o valor dos nossos preços, quarenta e cinco dias antes da matrícula, o que significa, na prática, os últimos dias de novembro ou primeiros de dezembro. Tal dispositivo legal nos impele a um exercício de futurismo, tentando adivinhar qual será o índice de inflação medido pelo INPC, que será apurado nos meses de março e abril, quando devem ser renovadas as convenções coletivas com os sindicatos dos professores e dos auxiliares de administração escolar.  Ora, as previsões correntes entre os economistas, no mês de novembro do ano passado, oscilavam em torno dos doze ou treze por cento. Todos podem lembrar, porém, que nos primeiros meses de 2003, houve uma tremenda aceleração da inflação, junto com uma crise cambial. O INPC disparou e acabou ficando em 18,75%, no mês de abril. Se a isso acrescentarmos o anuênio de 1%, que foi introduzido, nos tempos da inflação galopante, nas nossas convenções coletivas, em lugar do tradicional qüinqüênio e que é cumulativo com os reajustes anuais, poderemos entender por que houve uma defasagem considerável entre o aumento das nossas anuidades (em torno dos 15%) e o da nossa folha de pagamento, que, ao todo, sofreu um acréscimo de quase vinte por cento.

Por outro lado, as famílias de grande parte dos nossos alunos não tiveram, nos seus rendimentos, um acréscimo proporcional à inflação. Lembremos que uma boa parte da classe média do Rio de Janeiro – donde procede, em grande medida a nossa clientela tradicional – está composta por funcionários públicos dos três níveis: federal, estadual e municipal, cujos salários sofreram uma forte corrosão nos últimos anos. Lembremos ainda que a mesma classe média teve que suportar, como nós, a forte subida das tarifas dos serviços públicos. Daí se seguiram duas conseqüências: um forte crescimento, da parte dos nossos alunos, na demanda de bolsas e auxílios, e um claro aumento da inadimplência, problema não fácil de resolver, por causa da legislação que nos impede tomar, durante o semestre letivo, qualquer medida punitiva contra os inadimplentes. Como é lógico, procuramos evitar o estabelecimento de uma “cultura do calote”, entre os nossos alunos. Daí o apelo amigável e insistente à quitação das dívidas, que temos feito através de cartas, assim como o recurso a medidas mais fortes, mesmo judiciais, de cobrança após a conclusão do curso. Tais procedimentos acabaram por provocar uma diminuição da inadimplência que parecia projetar-se em escala nunca antes experimentada por nós.

Por outro lado, os critérios utilizados pelo MEC para a concessão dos financiamentos ao estudante (FIES) se constituíram também num fator negativo para nós. A preferência para os alunos das escolas públicas, para os que estudam no Nordeste do Brasil e para os que se preparam, através das licenciaturas, para o magistério no ensino básico, limitou enormemente a possibilidade de os nossos alunos serem contemplados com tal benefício, que representa uma ajuda indireta para a instituição e que não cresceu na proporção da expansão do ensino superior nos últimos anos.

Assim, iniciamos o ano com a previsão de um forte déficit orçamentário, tanto mais grave quanto os problemas do ano passado nos obrigaram a consumir quase por inteiro as nossas parcas reservas.

A primeira revisão orçamentária, feita no mês de março, apresentou um quadro extremamente sombrio e aparentemente insolúvel, com um déficit real estimado em doze milhões de reais. Partimos, pois, para um reajuste duro, mas necessário, de nossas estruturas. Para tanto, por sugestão da nossa mantenedora, já no fim de 2002, foi constituído um grupo especial de assessoria da Reitoria para o planejamento e orçamentação, composto dos professores Scavarda e Silva Mello, do funcionário Fausto da VRAD, e com a colaboração toda especial e desinteressada do Dr. Charnaux Sertã. Tal grupo merece um reconhecimento público pela sua atuação e dedicação. A equação a ser resolvida era bem difícil: como diminuir nossos gastos, reduzindo os nossos quadros, mas  sem afetar nosso tradicional modelo de excelência.

Em relação ao corpo docente, foram seguidos os dois caminhos já indicados no meu relatório do ano passado: a regulamentação da jubilação, prevista no nosso Estatuto, como regra geral, para os que atingem setenta anos de idade, mas com a possibilidade de, em razão do interesse dos Departamentos, considerar algumas exceções; e a avaliação acadêmica de todos e cada um dos nossos professores, de acordo com o nosso plano de carreira docente. Devemos reconhecer que, em conformidade com as normas em vigor, tal avaliação deveria ter sido feita, de modo periódico e sistemático. A verdade é que poucos Departamentos estiveram aplicaram, ao longo dos anos, um procedimento que facilita a renovação do quadro docente, incentivando a sua excelência. É necessário, por exemplo, estimular todos os que ainda não são doutores a que prossigam no seu esforço de complemento da formação docente. Devemos também estar atentos ao trabalho efetivamente desenvolvido, ao longo dos anos, por todos e cada um dos nossos docentes. Quero agradecer publicamente aos membros das Comissões da Carreira Docente,  especialmente aos da Central, que, de modo objetivo e eficiente, examinaram um enorme volume de processos, tentando traçar o perfil completo de cada professor. Independentemente de crises ou dificuldades acadêmicas, tal avaliação deve-se tornar um procedimento normal na PUC. As decisões que tivemos que tomar, como consequência dessa avaliação não foram nem agradáveis nem fáceis, mas eram necessárias.

Será necessário ainda proceder a uma terceira fase da nossa revisão: cruzar os dados acadêmicos com os orçamentários, de forma a conseguir desenhar um quadro ideal para cada Departamento, adequando-o às nossas possibilidades. Como também, se for preciso, cortar atividades que possam representar risco para as pessoas envolvidas nelas.

Como é lógico, além de diminuir os gastos, procuramos aumentar as nossas receitas. Como é sabido, o número dos nossos alunos, tanto da graduação quanto da pós-graduação, tem crescido consistentemente. Não se pode, porém, esquecer que, cada vez mais, acolhemos alunos de baixa renda, a muitos dos quais não só devemos dar bolsa integral, mas inclusive conceder algum tipo de auxilio monetário, para transporte, alimentação e material escolar. Por isso, o aumento de alunos não significa necessariamente um aumento na arrecadação das anuidades na mesma proporção. Mas isso é algo que aceitamos de bom grado, pois faz parte de nosso caráter filantrópico e comunitário, orientado pelo humanismo cristão.

Conseguimos, mediante um esforço perseverante, voltar a receber, a partir do mês de maio, as taxas escolares dos alunos bolsistas do CNPq, que tinham sido cortadas unilateralmente a partir de abril do ano passado, mas até agora não nos foram pagos os treze meses em que elas ficaram suspensas.

Também aumentaram significativamente, tanto os rendimentos provenientes dos cursos de extensão, quanto dos projetos de pesquisa, desenvolvimento e serviços, em grande parte realizados através da Fundação Padre Leonel Franca. Chamamos a atenção para o fato de que tais convênios propiciam também uma renovação constante de nossos laboratórios e equipamentos. O esforço realizado pelos professores para a captação de tais recursos é notável e merece todo o nosso agradecimento. A esse respeito, desejo manifestar a minha preocupação com algumas políticas governamentais muito pouco justificáveis, como o contingenciamento dos fundos setoriais e a tendência a regionalizar os recursos, independentemente da qualidade dos grupos de pesquisa que apresentam os projetos. E ainda temos a lamentar que o Fundo de Infra-estrutura, a pesar de repetidas promessas de mudança, continue reservado às Universidades de gestão estatal.

As sucessivas revisões orçamentárias foram indicando que, graças às medidas até aqui descritas, nos encontrávamos no caminho certo. Se não fomos capazes de resolver todos os problemas, sim conseguimos cobrir quase por inteiro o déficit calculado no início do ano. Continuaremos, por isso, a trilhar, ao longo de 2004, o mesmo caminho de austeridade e rigor orçamentários e prosseguiremos os nossos esforços para aumentar as nossas receitas..

Continua, por outra parte a pairar sobre nós a ameaça de uma ação arbitrária da Previdência Social que retiraria a nossa imunidade garantida pela Constituição Federal. As nossas contas, não obstante o recurso interposto pelos fiscais do INSS, foram aprovadas plenamente pelo Conselho Nacional de Serviço Social e o nosso certificado de filantropia foi renovado. Um novo recurso, porém, feito pelos mesmos fiscais encontra-se nas mãos do Ministro Berzoini. Estamos completamente certos da razão que nos ampara e lutaremos com todas as forças para manter os nossos direitos.

 

A expansão da Universidade

As dificuldades até aqui enumeradas frearam o ritmo da renovação e ampliação do nosso espaço físico, mas não pararam por completo os nossos esforços. Com recursos extra-orçamentários gerados pelo próprio Departamento, completamos as instalações do bloco principal e começamos a construção do terceiro do IAG, a nossa Escola de Negócios, cada vez mais prestigiada. Também demos uma avanço significativo na edificação de nossa igreja, bela construção que se está tornando possível graças à generosidade de muita gente, que espontaneamente contribui para tornar realidade o sonho acalentado ao longo de tantos anos. Já estamos celebrando nela regularmente as missas de fim de semana. O amplo espaço reservado no seu subsolo para o nosso Centro Pastoral Padre Anchieta e a desocupação da atual capela permitirão a liberação de uma área não desprezível a ser aproveitada para as nossas atividades acadêmicas e administrativas. A sala de musculação, precariamente instalada nos fundos do campo de futebol, foi transferida para o nível térreo do nosso ginásio, deixando assim espaço para o Laboratório de Engenharia Veicular, levantado com recursos provenientes de convênios específicos nessa área. A extensão do laboratório TecGraf instalada na rua da Ajuda precisou ser ampliada, com o aluguel de mais uma sala, igualmente com recursos gerados por convênios de pesquisa. Dado a demanda crescente nesse campo, estamos a ponto de conseguir uma nova área de ampliação do mesmo laboratório nas vizinhanças da PUC.

Continuamos também com outros projetos de expansão, com a construção do nosso parque tecnológico – para cujos estudos preliminares contamos já com uma substancial ajuda da FNEP –. Participamos com destaque no Centro de Tecnologia de Dutos, junto à Refinaria Duque de Caxias. Problemas de caráter legal, que esperamos ver superados em breve, atrasaram o início das obras. Como já falei no ano passado, não pensamos numa expansão descontrolada, com a fragmentação do nosso modelo de Universidade em diversos campi, mas estamos dispostos a procurar novas áreas, como as descritas, para atividades específicas de pesquisa e extensão.

 

A qualidade e a relevância do nosso ensino

Em relação aos cursos que oferecemos, sempre nos devemos perguntar se são pertinentes para a nossa sociedade e se não deveríamos abrir outros novos. A pertinência não pode ser medida apenas em termos econômicos, olhando para eles como simples fonte de receita. Cursos como Serviço Social ou Filosofia, por exemplo, são fundamentais para o preenchimento de nossa função social e de geração de pensamento socialmente relevante. Por outro lado, habilitações e especialidades de caráter mais técnico só adquirem importância quando formam um número significativo de alunos. Em relação a eles, a questão não é apenas continuar ou fechar, mas principalmente, o como poderemos torná-los mais de acordo com as necessidades da sociedade.

Além de repensar os cursos já existentes, temo-nos perguntado constantemente que novos cursos poderíamos oferecer. Assim, nos dois últimos anos, após uma inteligente pesquisa de mercado, realizada por uma de nossas empresas incubadas, abrimos os cursos de Arquitetura e Urbanismo, e de Relações Internacionais. O enorme afluxo de candidatos para eles, não obstante tratar-se de cursos que ainda não tiveram tempo para mostrar qualidade e resultados plenos, nos enche de satisfação, vendo que, por assim dizer, a marca PUC, por si só, é capaz de atrair bons e numerosos estudantes. No conjunto da graduação, em relação ao ano passado, tivemos um acréscimo de dez por cento no número de candidatos.

Tivemos igualmente um resultado bastante satisfatório no Exame Nacional de Cursos (o “provão”). Se atribuirmos conceitos numéricos de 1 a 5, às qualificações de A a E, em que o INEP expressa o desempenho de cada curso, a nossa média é de 4,4: exatamente a mesma do ano passado. Dos quinze cursos nossos que foram avaliados, nove tiveram conceito A. Apesar deste resultado, continuamos a lamentar que ainda tenhamos alguns cursos com conceito C, embora em algum caso concreto tal fato se deva atribuir ao boicote de alunos inconscientes e irresponsáveis.

Em relação à pós-graduação, quero destacar o fato de, neste ano, ter ocorrido o quadragésimo aniversário do nosso primeiro curso: o mestrado em engenharia elétrica, implantado em 1963, cinco anos antes da lei de reforma universitária, que tanto incentivou a pós-graduação no Brasil. Além disso, como já falei no ano passado, continuamos a nossa política de completar a sua implantação nos Departamentos do CCS. Com o início dos mestrados em Sociologia e Política, e em Comunicação Social, que esperamos funcionem regularmente já no ano que vem, apenas o curso de Geografia e Meio Ambiente ficará sem estudos de pós-graduação stricto sensu, embora seja muito ativo nos de especialização, ou, seja, de pós-graduação lato sensu. Não houve este ano nova avaliação da CAPES, pelo que não é possível comparar o nosso nível atual com o de anos anteriores. Experimentamos, sim, um considerável aumento na procura dos nossos cursos de pós-graduação, o que indica o conceito de que gozamos perante a comunidade acadêmica.

Quero também chamar a atenção para o fato de que, dado o nosso caráter de Universidade Católica, em cujo governo participa com destaque a Arquidiocese do Rio de Janeiro, temos procurado dar apoio às instituições de formação do clero. O curso de Teologia do Seminário São José encontra-se, há anos, filiado à nossa Faculdade Eclesiástica correspondente. Este ano, concluímos também um convênio para incorporar o Curso de Filosofia do mesmo Seminário, de forma a facilitar aos seminaristas a obtenção de um diploma universitário. Estamos examinando igualmente a possibilidade de que o Instituto de Direito Canônico da Arquidiocese se integre, de algum modo, na nossa estrutura, inicialmente como um curso de especialização, ou seja, de pós-graduação lato sensu e, talvez mais adiante, como uma área completa de ensino e pesquisa. Logicamente, tais convênios e colaborações devem ser feitos para ajudar esses cursos a atingirem o grau de excelência acadêmica que nos caracteriza.

 

A perspectiva política para o ensino superior no Brasil

Todos somos conscientes de que nos encontramos num momento de mudanças em nosso país. Também no campo educacional, chegou a ser anunciada, até com palavras de mau gosto, proferidas por um ministro que não é responsável por esse setor, uma verdadeira revolução. Acusa-se a Universidade atual de ser alienada, desengajada dos problemas da nossa sociedade. Creio que tal acusação é, em grande parte, injusta, de modo especial pelo que se refere à nossa PUC. É verdade que, nas avaliações realizadas em tempos recentes, o fator “extensão”, ou seja, a interação com a sociedade, ficou bastante esquecido. Mas a Universidade não ficou parada. Olhando o nosso caso, podemos afirmar que nunca nos contentamos com o que fizemos. Sempre estivemos presentes entre os setores mais desfavorecidos da nossa cidade e inclusive estendemos a nossa ação até o Nordeste, participando no programa da Universidade Solidária na Bahia, em Sergipe e no Piauí. Em anos passados, expus as diversas ações de cunho social que empreendemos. Neste, limito-me a chamar a atenção para duas parcerias que nos permitiram ampliar ainda mais o nosso raio de ação. Refiro-me aos convênios e colaborações com a Secretaria de Ação Social da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro e com o Vicariato para a Caridade Social da Arquidiocese, que nos permitiram ampliar enormemente a nossa ação social. Pessoalmente, tenho visitado alguns dos lugares mais pobres onde o nosso Departamento de Serviço Social planta esperança entre os marginalizados e excluídos. Tenho também acompanhado muito de perto a nossa atuação, através do programa Raízes Comunitárias, não só na alfabetização, mas também no desenvolvimento cultural de adultos, mediante ações que não apenas transmitem conhecimento, mas também engajam pessoas das próprias comunidades nesse belo trabalho.

A continuidade de nossa colaboração com a Educafro e outras entidades que fomentam a integração social  demonstra que não é necessário um sistema de quotas, para conseguir uma maior igualdade. Tenho escrito e continuo a defender que o único critério para conceder auxílios é e deve ser sempre a carência, sem privilegiar uns ou outros, em razão de origem étnica ou da  instituição onde fizeram seus estudos. O número crescente de alunos provenientes de camadas diversas daquelas que tradicionalmente freqüentavam a PUC é um fator de enriquecimento para a nossa Universidade. Sem discriminação, mas também sem favorecimento paternalista e humilhante, estamos contribuindo para uma sociedade mais igualitária. E continuaremos a trilhar esse caminho.

A CCESP, a nossa Coordenação Central de Estágios e Serviços Profissionais, dirigida e animada com grande dinamismo, estendeu a nossa presença até a Amazônia. No início do ano, tive a oportunidade de visitar um grupo de estudantes que, em convênio com o Exército, estavam empenhados num trabalho de integração nacional naquelas regiões. E na nossa Mostra PUC a Amazônia se fez presente, com o seu rico folclore, o seu belo artesanato e, sobretudo, o calor humano do seu povo.

Em outra ordem de coisas, o nosso Instituto Gênesis, incentivador de uma cultura de empreendedorismo entre os nossos alunos, lançou-se também na ação integradora do nosso país. Ao lado da incubadora tecnológica e da cultural, constituiu uma terceira, de caráter social, para ajudar as populações carentes a levar adiante as suas iniciativas de caráter cooperativo, comunitário ou cultural.

Também a nossa pastoral universitária avança pelos mesmos caminhos, não apenas com ações caritativas, mas também com ações tão significativas como a missão de férias, que leva os nossos universitários a conviverem com os marginalizados e oprimidos.

Creio que, perante o panorama que acabo de traçar e perante a problemática fortemente social de nossos programas, seria completamente injusto qualificar a nossa Universidade de alienada. Estamos mergulhados na sociedade em que vivemos e continuaremos a envidar esforços para avançar ainda mais nesse rumo.

Mas, além das acusações de alienação, temos escutado insistentemente, da parte das autoridades educacionais do nosso país, propostas e preocupações relativas à avaliação das instituições universitárias. Sempre defendemos a necessidade de um forte sistema de avaliação; não para conseguirmos lugares de destaque em rankings sempre discutíveis, mas como um estímulo a superar constantemente os nossos próprios resultados. Contudo, alguns dos projetos elaborados pelos teóricos do MEC despertaram o nosso receio. Senti-me obrigado a participar em debates nacionais e a escrever artigos, manifestando a minha discordância com certos conceitos subrepticiamente incluídos no documento chamado SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior), elaborado por uma comissão especial do MEC. Não resisto a transcrever aqui alguns dos parágrafos que escrevi a respeito desse malfadado documento:

“Costuma-se dizer que meias verdades são mentiras completas. No nosso documento, após o enunciado Princípios e Critérios, encontramos um epígrafe com o título «Educação é um direito social e dever do Estado». É verdade, mas não é toda a verdade, porque o art. 205 da Constituição Federal diz: «A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade». Há, portanto, no nosso sistema constitucional, três sujeitos ativos da educação: Estado, família e sociedade. Omitir os dois últimos equivale a concentrar todo o poder nas mãos do Estado, algo extremamente perigoso no campo da educação. E o documento em questão não deixar passar a oportunidade para tirar as conseqüências dessa omissão. Vejamos algumas frases dele, incluídas no mesmo parágrafo [os grifados são meus]:

«As IES, mediante o poder de regulação e de direção política do Estado¸ têm a responsabilidade de um mandato público».

«Dado o seu caráter social, uma instituição educativa deve prestar contas à sociedade, mediada pelo Estado, do cumprimento de suas responsabilidades».

«As instituições de educação superior devem solidariamente produzir os meios para o desenvolvimento sustentado do país e a formação dos cidadãos de uma dada sociedade, de acordo com as pautas valorativas hegemônicas nas relações de forças sociais e políticas de um determinado momento histórico».

Pouco mais adiante, o documento afirma que um dos mais importantes critérios para avaliar a qualidade da educação superior consiste «na sua eficácia para fortalecer as preferências éticas e políticas dominantes num determinado momento histórico».

Creio que as frases transcritas falam por si só. Nem adianta argumentar, como têm feito os membros da Comissão Especial, que os parágrafos que estamos comentando terminam afirmando a necessidade da liberdade da instituição educativa, para criar, pensar, criticar, aprender, produzir conhecimentos e, enfim, educar. Se, no momento da avaliação – totalmente entregue ao Estado, pois ele seria o mediador da sociedade – vai se medir se a ação das IES está de acordo com as pautas valorativas hegemônicas... num determinado momento histórico; se a qualidade consiste na eficácia para fortalecer as preferências éticas e políticas dominantes... de um determinado momento histórico, qual é o espaço da liberdade? Não parece escutar-se, nesses conceitos o eco de Gramsci e de seus «intelectuais orgânicos»? Não soa tudo isto a «centralismo democrático»? Realmente, o SINAES desperta mais perplexidades e interrogações do que certezas e esperanças. Serão realmente dissipadas essas dúvidas, quando for apresentado o anunciado projeto de lei?”

Afortunadamente, o novo documento conhecido como IDES, em substituição ao SINAES, recentemente publicado e que, segundo o Ministro da Educação deverá servir de base para a elaboração do novo projeto de avaliação, não contém mais tais conceitos e até acena com um conselho regulador da avaliação, onde haverá representação das famílias e da sociedade civil. Devemos permanecer atentos ao desenrolar de tais projetos, porque uma avaliação mal dirigida pode significar um retrocesso do Brasil no campo educacional.

 

Uma palavra final

Ao terminar o nono ano de minha gestão à frente da Reitoria da PUC, vejo-me, mais uma vez, obrigado a manifestar publicamente o meu agradecimento a Deus Nosso Senhor, pela ajuda nessa caminhada difícil, mas também cheia de alegrias. Sem essa ajuda divina, a tendência natural seria a ceder ao cansaço e a parar na metade do caminho. Continuo, porém, com ânimo para enfrentar novos desafios.

Logicamente, devo também agradecer a todos os que caminharam junto comigo durante este ano, de modo especial os meus mais imediatos colaboradores – vice-reitores, decanos, diretores... – que não medem tempo nem esforços para continuar na construção do nosso modelo de Universidade. Sem esquecer o trabalho de tantos e tantos professores e funcionários que, muitas vezes de modo anônimo, “vestem a camisa da PUC”. Para todos, um muito obrigado, que brota do fundo do coração e a promessa das minhas orações.

Agradeço a atenção prestada por todos e peço um esforço renovado para continuarmos, com entusiasmo, na realização da nossa tarefa durante o próximo ano.

Para todos, um feliz Natal e um próspero Ano Novo, cheio das bênçãos de Deus.

Muito obrigado!


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