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Data: Segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Perfil Aécio Neves: 'Minha felicidade incomoda alguns'
16/12/2013
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi presidente da República por três dias e sentiu uma solidão profunda. Foi em 2001, quando comandava a Câmara dos Deputados. O então presidente Fernando Henrique Cardoso e o vice, Marco Maciel, combinaram de viajar no mesmo período para o parlamentar assumir o Palácio do Planalto. O mineiro confidenciou a amigos ser uma cena angustiante ter batedores atrás de seu carro oficial lhe fazendo a segurança para onde quer que fosse e ver pessoas de seu cotidiano cumprirem protocolo para se aproximar. "Quando cheguei lá, não achei que aquilo poderia ser o maior prêmio que alguém pode ter, não. E nem me vejo fazendo política até os últimos dias da minha vida", contou Aécio ao Estado.

Entretanto, desde que completou o segundo mandato no governo de Minas Gerais, em 2010, o tucano decidiu que realmente queria disputar a Presidência. Conseguiu angariar apoio majoritário de seu partido em torno do próprio nome, especialmente ao assumir o comando nacional do PSDB, em maio deste ano. Ainda não é o candidato oficial do partido, embora seja tratado desta forma pela grande maioria dos tucanos.


'Cristo dilacerado'. Em mais de 30 anos na vida pública, o economista por formação costuma dizer que nunca foi obcecado pela cadeira presidencial. Por ser de uma família tradicional na política mineira e neto do presidente Tancredo Neves, que morreu em 1985 antes de assumir o cargo, há pelo menos uma década – desde que assumiu o governo de Minas, em 2003 – seu nome passou a ser cotado no PSDB para a disputa pela Presidência. Mas Aécio titubeava. Duvidava se queria renunciar aos prazeres pessoais para ser presidente. "Já me vi muitas vezes como um Cristo dilacerado. Uma parte de mim achando que eu tinha que ir (disputar a Presidência) a qualquer custo, outra achando que não", confidenciou.


A incerteza do mineiro contaminou correligionários que duvidavam de seu empenho para chegar ao Palácio do Planalto. O prefeito de Manaus e um dos fundadores do PSDB, Arthur Virgílio Neto, resumiu o sentimento, até pouco tempo atrás, de alguns colegas da legenda. "Nunca vimos o Aécio disposto a matar ou morrer, no sentido figurado, para ser presidente e isso nos desanimava. Hoje mudou. Sentimos nele essa disposição."


Um parlamentar de Minas Gerais, próximo de Aécio e de Serra, relembra uma frase do ex-deputado mineiro José Bonifácio Lafayette de Andrada sobre o avô do senador. "Tancredo é um político capaz de tirar as meias sem tirar os sapatos." E fez um paralelo: "É isso que o Aécio fez agora que está pronto. Ele tirou o Serra do jogo sem brigar nem com ele nem com ninguém".


Aécio acredita ter resolvido o dilema do "Cristo dilacerado" com a perspectiva de conseguir conciliar a vida pessoal e a profissional. Aos 53 anos, e com a ajuda de FHC, percebeu que incorporar o papel de homem sério e tentar sufocar a fama de festeiro para se eleger presidente seria um tiro no pé. Decidiu, então, incorporar seu apreço pelo agito em boates na noite carioca, festas com bem-nascidos em Angra dos Reis e passeios a cavalo ou de moto Brasil afora à sua biografia de homem público. Como um veneno que, dosado, vira antídoto, ser festeiro vai virar sinônimo de "alegria de viver", a ser propagandeada em 2014. "Queremos a campanha dele bem alegre, para cima, como foi a de Juscelino Kubitschek, eles têm um espírito bem humorado", disse o governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia.


Um discurso importante que deve ser incorporado ao marketing eleitoral do pré-candidato é o de que ele construiu sua trajetória política sendo o que sempre foi, com os mesmos amigos de longa data e gozando dos mesmos prazeres. "Não moldei a minha vida para ser um político convencional. Essa é a minha vida. Eu levo a vida de forma absolutamente normal. Sou uma pessoa feliz e acho que essa minha felicidade incomoda algumas pessoas", teoriza Aécio.


Por falar em incômodo, a ação penal que trata do mensalão mineiro no Supremo Tribunal Federal e tem como réu o deputado federal e ex-presidente do PSDB Eduardo Azeredo (MG) pode ser julgada em meio à eleição do ano que vem. Segundo denúncia da Procuradoria-Geral da República, tratou-se de um esquema de arrecadação ilegal de recursos para a campanha à reeleição de Azeredo, então governador de Minas, em 1998. Nessa época, Aécio tinha deixado a presidência do PSDB mineiro e dedicava-se à Câmara dos Deputados – ele não é réu na ação. Porém, o tema envolvendo seu partido pode lhe gerar desgaste durante a campanha caso seja explorado pelos adversários. No mínimo, já tem um efeito congelante imediato: em recentes entrevistas, Aécio já avisou não vai usar a prisão dos petistas condenados no mensalão durante a disputa do ano que vem.


Do surfe ao poder. Filho do deputado Aécio da Cunha, Aecinho, como era chamado pelos parentes e colegas de escola, nasceu em 10 de março de 1960, em Belo Horizonte. Viveu lá até os 12 anos. Nessa época, costumava viajar com os pais e as irmãs Andrea e Ângela para a fazenda da família na cidade de Cláudio, no centro-oeste mineiro, onde passava tardes sumido explorando a propriedade no lombo de um cavalo. Também não saíam da histórica São João del Rei, para longos almoços familiares na terra de Tancredo. Na capital do Estado, a brincadeira envolvia política. Antes de toda eleição, esparramava-se no chão com as irmãs e passavam horas brincando de envelopar santinhos para os políticos da casa.


Em 1972, mudou-se para o Rio, quando seu pai foi participar de um curso na Escola Superior de Guerra. Lá, morou nos metros quadrados que estão entre os mais caros do Brasil, como em um amplo apartamento na Avenida Vieira Souto, na zona sul. A praia de Ipanema era como a extensão de sua casa. Dividia seu tempo entre pegar onda com os amigos e estudar na escola católica de São Vicente de Paulo, no bairro do Cosme Velho.


Como aluno, nunca foi muito apegado aos livros. Costumava ir bem em matemática, escolheu estudar Economia e ingressou na PUC-Rio. E assim levava a juventude: estudava, saía para beber e paquerar com os amigos, participava de corridas de motocross, adorava viajar e não saía da praia. Não foi militante estudantil, nem mesmo presidente de grêmio na escola.


Primeira campanha. Mas o destino do futuro economista mudou no Natal de 1981. Tancredo convidou o neto para deixar a capital fluminense e o ajudar na campanha para o governo de Minas Gerais. Aécio riu, levou na brincadeira. Quando viu que era para valer, aceitou e voltou para o Estado natal. Percorreu Minas em comícios com o avô e a eleição foi vitoriosa para os Neves. Aos 23 anos, o jovem surfista foi nomeado secretário particular do gabinete do governador, enquanto equilibrava o curso universitário transferido para a PUC de Minas. Participou da campanha das Diretas Já e passou a ajudar o avô em mais uma campanha – agora, para a presidente da República, cuja vitória veio em janeiro de1985, via voto indireto.


Com Tancredo eleito, Aecinho foi nomeado secretário particular de Assuntos Especiais da Presidência. Como o avô nunca assumiu o posto, ele também não chegou a exercer o cargo. Um dia antes da posse presidencial, marcada para 15 de março de 1985, Tancredo foi internado no hospital de Base de Brasília. Aécio acompanhou os últimos dias do presidente do Brasil. A pedido do avô, Aécio tinha a obrigação de mantê-lo informado sobre o andamento da República e dos primeiros dias de interinidade de seu vice, José Sarney. Com a morte de Tancredo em 21 de abril de 1985, Aécio abdicou do cargo de secretário particular e, dias depois, foi prestigiado por Sarney com a cadeira de diretor de Loterias da Caixa Econômica Federal. Ficou menos de um ano e foi cuidar da própria carreira, disputando pela primeira vez – e elegendo-se – deputado federal em 1986. Com a experiência de anos de estrada, desenvolveu um método para driblar a fala atropelada e a leve gagueira presente nas primeiras sílabas de uma sentença. Quando vai falar em público, o político afasta os pés, mantendo-os paralelos, e balança levemente o corpo, como um pêndulo para frente e para trás. Funciona.


Alianças. Aécio Neves é fruto de um ambiente em que situação e oposição conviviam em harmonia. No casamento de seu pai, o deputado Aécio Ferreira da Cunha, com sua mãe, Inês Maria, por exemplo, compartilharam o mesmo altar os padrinhos e adversários políticos Juscelino Kubitschek, então presidente, e o vice-governador de Minas, Artur Bernardes Filho.


O próprio Tancredo e o genro, Aécio Cunha, foram de partidos opostos, mas compartilharam também por 18 anos o mesmo apartamento em Brasília. Os desencontros políticos na mesma família foram passados geração adiante e o tucano Aécio Neves hoje se entende bem com o primo Francisco Dornelles, do PP, partido aliado da presidente Dilma Rousseff. "Parece coisa do folclore da política mineira, mas é tudo verdade e o Aécio herdou isso. Ele faz adversários na política, nunca inimigos", afirma um familiar muito próximo do senador.


Na vida de Aécio vale a máxima repetida por Tancredo: "Se é radical, não é mineiro. Se é mineiro, não é radical". Com seu jeito considerado ponderado e portador de um tempo político muito particular – interpretado às vezes até como lento –, quem se relaciona com o tucano exalta como principal característica a habilidade para fazer alianças.


O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dos maiores entusiastas da candidatura do mineiro, afirmou ao Estado por e-mail: "Agora, que assumiu a direção do partido, mostrou que sabe compor, e, mais importante, que tem comando. Quem quiser que se iluda: as formas amenas no trato não são contraditórias com o pulso na tomada de decisões e no controle dos processos políticos. É isso que Aécio Neves tem demonstrado".


Um parlamentar do PSDB que convive há tempos com o mineiro opina: "Ele se parece muito mais com o Lula no carisma e instinto de animal político do que com o perfil intelectual de esquerda de Fernando Henrique e de Serra". Parecido ou não, Aécio tem uma relação afetuosa com o ex-presidente petista. A amizade começou na época em que ambos eram deputados constituintes, no fim dos anos 1980, e jogavam futebol no mesmo time, formado por parlamentares.


"O Lula era o nosso reserva de luxo. Eu o deixava jogar de vez em quando porque era meu amigo. Ele batia muito", brinca Aécio, o atacante do grupo, que era considerado bom de bola, mas "muito reclamão". Já Lula, atuante na defesa, era um "beque grosso", conforme descreveu uma "vítima" das caneladas dos dois políticos.


Pai herói. O senador aplica a destreza da negociação política à vida familiar. Atribulado em seu gabinete no Senado, há duas semanas interrompeu uma reunião para atender à única filha, Gabriela Falcão Neves da Cunha, de 22 anos, ao telefone. "Fala, filhota. Quantas pessoas estão indo, filha? Tá, depois eu te ligo, mas só me fala mais ou menos quantas pessoas vão? Quantas? Meu Deus do céu! Hahhaha meeeu Deeeeus hahaha. Pensei que fossem umas quatro. Te ligo daqui a pouquinho, deixa eu pensar sobre qual vai ser a operação de guerra que eu vou fazer. Beijo, beijo, tchau." E explicou: "Ela quer passar o fim de semana na fazenda... com 15 amigos".


Gabriela é "centradíssima, estudiosa, mas feliz, de bem com a vida, como eu", descreve o pai, "mas tem horror à política". O presidenciável revela que a política sempre foi uma coisa dramática na família. A advogada Andrea Falcão, ex-mulher com quem mantém a amizade até hoje, sempre foi avessa ao tema. "É que na política você é cada vez menos seu e mais do mundo", explica ele.


Fama. Aécio tem fama de namorador por se envolver sempre com mulheres jovens e bonitas. "Acho um absurdo o tanto que pegam no pé dele por isso. Se tinha alguém que podia sair namorando era ele, que era divorciado. Tem muito político que é casado e tem namoradinhas, a imprensa sabe e ninguém abre a boca. É injusto", resigna-se um parente próximo.


Um familiar que acompanhou de perto os dois mandatos do governo Aécio em Minas também vê a política como culpada por ataques pessoais ao presidente do PSDB. Como por exemplo rumores de que sua equipe tentava blindar o governo contra críticas censurando a imprensa mineira "e também por outros boatos horríveis sobre ele na internet", afirmou o parente.


Após 15 anos do divórcio, Aécio casou-se em outubro com a ex-modelo Letícia Weber, com quem namorou por mais de cinco anos. Em cerimônia discreta e para poucos, a oficialização significou, para alguns colegas de partido, um sinal de que ele quer se mostrar mais sério há um ano das eleições. Para outros, "foi uma união com antecedência suficiente para não parecer fato político fabricado para a disputa eleitoral".


O fato é que Aécio se diz romântico. "Sou um eterno apaixonado, gosto de caminhar na praia, ver TV juntinho, pegar um cineminha. Só não sou do tipo que ainda manda flores. Flor dá um azar danado."

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