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Tipo de Clipping: WEB

Data: 27/08/2015

Veículo: Valor Econômico

Câmbio e o ajuste externo
27/08/2015

Em entrevista recente, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que serão as exportações líquidas que farão o país sair da recessão. Faz sentido. Com a demanda doméstica comprometida temporariamente pelo aumento da inflação e pela piora no mercado de trabalho, a saída de curto prazo é a demanda externa. A depreciação cambial recente atua nessa direção. Mas é suficiente?

O Brasil entrou em 2015 precisando de ajustes em diversas frentes, entre elas, nas contas externas. Entre 2012 e 2014, o déficit em conta corrente (que agrega balança comercial e balança de serviços) dobrou de 2,2% para 4,4% do PIB, um nível elevado para padrões brasileiros.Financiar um déficit desta magnitude é difícil, especialmente considerando a perspectiva de alta de taxa de juros nos EUA e a provável redução dos investimentos estrangeiros diretos no Brasil, consequência da desaceleração da atividade econômica. Desta forma, era importante interromper a tendência de rápida deterioração da conta corrente e trazê-lade volta para perto de 2,5% do PIB.

O aumento do déficit externo foi consequência de uma combinação de excessos domésticos e mudança do cenário global. O acelerado crescimento do consumo interno até 2014, em meio a restrições do lado da oferta e câmbio valorizado, impulsionou as importações.Ao mesmo tempo, a queda expressiva nos preços das commodities reduziu o valor financeiro das exportações brasileiras.

Como não devemos voltar a ver os preços das commodities subindo como na década passada - especialmente com os novos sinais de desaceleração na China essa semana -, o ajuste das contas externas exigiu uma importante depreciação do real. Nos últimos 12 meses, a taxa de câmbio depreciou cerca de 60%, um movimento expressivo sob qualquer parâmetro. Mas que não coloca a taxa de câmbio em patamar excessivamente desvalorizado: mesmo expressivo, o movimento apenas trouxe a taxa de câmbio real para um pouco acima de sua média histórica (ver gráfico). Ou seja, a depreciação cambial foi necessária e tende a ser permanente.

É necessário uma desvalorização adicional? Já há sinais de que o câmbio está se aproximando de seu equilíbrio. O déficit em contra corrente entre janeiro e julho de 2015 recuou para US$ 44 bilhões, frente a US$ 58 bilhões no mesmo período de 2014. Ainda é um número elevado, mas a queda foi palpável e deve continuar à frente. Supondo uma trajetória em que a taxa de câmbio encerre este ano em R$ 3,55 por dólar, e alcance R$ 3,90 no fim de 2016, as projeções da equipe econômica do banco Itaú indicam que o déficit em conta corrente recuará para 3,2% do PIB em 2016, e 2,5% em 2017.

Mas para sabermos se o câmbio já está de fato perto do equilíbrio é importante distinguir quanto da melhora recente das contas externas se deve à moeda mais depreciada ou é resultado da queda da atividade econômica. As contas da economista do Itaú, Julia Gottlieb, indicam que o câmbio é responsável por aproximadamente metade da queda das importações.

De fato, a substituição de importações, em diversos segmentos da economia, é uma realidade. Em meus contatos diários com clientes, empresas de bens de consumo duráveis e semi-duráveis vêm reportando alguma aceleração de vendas em segmentos premium, demanda que era suprida com compras no exterior (o "efeito Miami"). Na mesma linha, empresas ligadas ao setor de turismo revelam uma clara desaceleração da demanda por viagens internacionais.

Do lado das exportações, no entanto, os efeitos ainda são modestos. Durante o longo período de câmbio apreciado e recessão nos países desenvolvidos, muitas empresas encerraram ou reduziram seus esforços de vendas externas. A depreciação cambial e a retomada do crescimento nos EUA e Europa melhoram as condições, mas a retomada dos negócios é lenta.

Além disso, muitos países emergentes, que também passam por um período de desaceleração econômica, depreciaram suas taxas de câmbio e vêm promovendo ajustes para ganhar produtividade. Ou seja, a aceleração das exportações brasileiras depende não apenas de se tornar mais competitivo em termos absolutos, mas também em relação aos seus concorrentes. Neste sentido, o câmbio favorável não é suficiente. É preciso avançar em medidas que impulsionem a produtividade e a eficiência da produção nacional, como aquelas contidas na "Agenda de Cooperação Legislativa para o Crescimento" apresentada pelo Ministério da Fazenda. Acelerar o programa de concessões em infraestrutura também é fundamental.

No início do ano, o país tinha o desafio de ajustar as contas externas. Estamos progredindo mas, por ora, o ajuste tem sido feito mais pela queda das importações do que pelo aumento das exportações. E o aumento do risco de desaceleração na China dificulta o cenário. Com a expressiva depreciação cambial recente, é provável que gradualmente as exportações melhorem. Mas para que as vendas externas de fato impulsionem o PIB, é crucial, além do câmbio favorável, melhorar a eficiência e a produtividade da produção local. E é preciso fazê-lo mais rápido do que nossos concorrentes.

Caio Megale, mestre em economia pela PUC-RJ, é economista do Itau-Unibanco







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