O Globo

Tipo de Clipping: WEB

Data: 19/02/2017

Veículo: O Globo

A Mata do Pai Ricardo, um tesouro em plena Floresta da Tijuca
19/02/2017

RIO - O berçário que encanta os cientistas fica onde o maior gigante do Pai Ricardo está. O Jequitibá com nome tão maiúsculo quanto o tamanho chegava aos 40 metros de altura. Deu nome a uma trilha e a uma cachoeira, referências dos frequentadores da floresta. Mas em 2013, durante uma ventania, quebrou. A copa veio abaixo e levou com ela outras árvores e arbustos. 

- Ele tem agora 22 metros. Seu tronco mede 3,2 metros de diâmetro. Esse camarada viveu mais de dois mil anos. O vento o quebrou porque seu tronco estava velho e frágil. Seu tempo já tinha acabado - diz Oliveira.

O Jequitibá morreu. Mas não foi embora. Morto, ele dá vida à floresta.

- Milhares de fungos cobrem o tronco e as raízes e os decompõem. Há literalmente milhões de micro-organismos que reciclam toda a colossal quantidade de matéria orgânica do Jequitibá e a devolvem à mata em forma de nutrientes - explica Ana Luiza.

O Jequitibá morreu. Mas não foi embora. Morto, ele dá vida à floresta. _ Milhares de fungos cobrem o tronco e as raízes e os decompõem. Há literalmente milhões de micro-organismos que reciclam toda a colossal quantidade de matéria orgânica do Jequitibá e a devolvem à mata em forma de nutrientes _ explica Ana Luiza.

Mais do que apenas isso, com a morte do gigante, fez-se a luz. As grandes árvores criam um mundo de sombra sob as copas. Nele há todo um banco de genético de outras plantas à espera de uma oportunidade, luz para emergir e iniciar um novo ciclo. Isso pode levar décadas, séculos ou milênios.

- Assistimos a essa parte adormecida da floresta despertar. Quando uma clareira se abre e a mata em volta é saudável, oferece nutrientes e umidade, uma revolução acontece. Esse povo da luz, arbustos e plantas menores, desperta, começa a emergir, ganha espaço. Crescem também os filhotes das árvores que um dia serão gigantes, fecharão o céu da mata e darão início a um novo ciclo. Um dia, há muitos séculos, esse jequitibá foi como essas plantinhas que vemos aqui. Cresceu, sobreviveu por eras e se tornou ele próprio o céu. Com a sua morte, um novo ciclo começou - destaca Rogério Oliveira.

Os segredos da Floresta da TijucaParte da Mata do Pai Ricardo cerca a Vista Chinesa, um dos mais famosos cartões-postais do Rio. A floresta ali guarda trechos da Mata Atlântica original, que sobreviveu às plantações do passado e à expansão da cidadeFoto: Custódio Coimbra / Agência O GloboA trilha do Jequitibá atravessa a Mata do Pai Ricardo e faz parte da Transcarioca. Às margens da trilha estão árvores nativas da Mata Atlântica e espécies da flora ameaçadas de extinçãoFoto: Custódio Coimbra / Agência O GloboO grande jequitibá do Pai Ricardo. A árvore, uma das maiores do Rio, tem 3,2 metros de diâmetro de tronco. Cientistas dizem que ele tinha mais dois mil anos de idade, quando quebrou e começou a morrer em 2013. Hoje, seu tronco em decomposição permite o nascimento de mais árvoresFoto: Custódio Coimbra / Agência O GloboO chão da floresta abriga milhares de espécies de micro-organismos e é fundamental para manter a saúde da mata. A espessa cobertura de folhas protege o solo e mantém a umidadeFoto: Custódio Coimbra / Agência O GloboFungos cabeça de pau. A espécie é uma das muitas de fungos que proliferam na Mata do Pai Ricardo e são fundamentais para manter a saúde do ecossistemaFoto: Custódio Coimbra / Agência O GloboSonhos d'ouro: essa espécie nativa da Mata Atlântica inspirou o nome da obra de José de Alencar (1872). Até hoje, ajuda a colorir a floresta e é facilmente encontrada na Mata do Pai RicardoFoto: Custódio Coimbra / Agência O GloboDetalhe da vegetação da Floresta da TijucaFoto: Custódio Coimbra / Agência O GloboFolha de embaúba. Essa espécie é bastante comum em outras partes da Floresta da Tijuca, mas na Mata do Pai Ricardo existe apenas em alguns pontos, onde a floresta está renascendoFoto: Custódio Coimbra / Agência O GloboGrandes árvores podem ser vistas ao longo das trilhas e caminhos na Mata do Pai Ricardo. Diversidade nos trechos mais distantes das margens é ainda maiorFoto: Custódio Coimbra / Agência O GloboO oco do tronco do velho jequitibá hoje abriga espécies de fungos. No solo há muitas espécies de micro-organismos que nutrem a floresta. Animais como aranhas e cobras o usam como abrigo Foto: Custódio Coimbra / Agência O GloboO geógrafo Gabriel Paes analisa o tronco de um pau d'alho com centenas de anos de idade e mais de 30 metros de altura. Os paus d'alho estão entre as árvores gigantes da floresta e seu cheiro característico pode ser sentido a muitos metros de distânciaFoto: Custódio Coimbra / Agência O Globo1 de 11AnteriorPróximoPerto do gigante morto, um arbusto já conquistou seu lugar. É uma guapeba (Chrysophyllum imperiale) ou marmeleiro-do-mato. Mas é o nome de árvore-do-imperador que talvez explique melhor sua sina. Levada quase à extinção devido à exploração de sua madeira, essa espécie que chega aos 25 metros era considerada ótima para a construção naval. Caiu nas graças dos Pedros I e II. Este último a enviava para jardins botânicos, queria preservá-la. Mas ficou cada vez mais rara depois do Império. Relatos não comprovados dizem que na jovem República teria deixado de ser protegida por sua associação com o imperador.

- Essa espécie é só pequeno exemplo do que temos aqui - explica Oliveira.

Não se sabe por que o café não entrou ali. A Mata do Pai Ricardo não é intocada, mas é preservada. Rogério Oliveira acredita que os muitos matacões - imensos blocos de rocha - e a declividade acentuada do terreno possam ter dificultado o estabelecimento de plantações.

- É mágico o que observamos acontecer. O processo está muito mais rápido do que imaginamos - acrescenta a doutoranda em geografia da PUC-Rio Joana Stingel Fraga.

Embora a fauna não seja tão rica quanto a flora, pois a Mata do Pai Ricardo é como uma ilha cercada de cidade e estrada, alguns animais encontram ali refúgio. Esquilos e macacos são comuns. Nem tanto quanto as cobras. O oco do velho Jequitibá é um paraíso para elas, que encontram lá abrigo e alimento, na forma de ratinhos silvestres e aranhas, por exemplo.

Em outro ponto do Pai Ricardo, um pau d'alho centenário de cerca de 30 metros de altura é alcançado 20 metros fora da trilha. O pé afunda no tapete de folhas, cipós fecham o caminho. Cobras também se abrigam nos tocos. Ali, a floresta é escura, confunde com facilidade e tira referências. Não é território para passeios. E os especialistas esperam que assim permaneça.

- O que não pode é a agressão à mata. Há guimbas de cigarro, restos de comida, de oferendas nas trilhas. As pessoas querem aproveitar a natureza e a destroem, violam, desrespeitam. Espero que haja mais consciência e carinho por um tesouro que é de todos - lamenta Ana Luiza.

Para sobreviver a floresta, como a cidade à volta dela, precisa de paz.


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