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No Dia Mundial da Segurança dos Alimentos, a SACRU alerta sobre as doenças causadas por alimentos contaminados e sobre a desnutrição de mais 13 milhões de pessoas, de maioria africana
07/06/2022

Confira a versão original do documento: https://www.sacru-alliance.net/sacru-international-insight-on-world-food-safety-day/

Na ocasião do Dia Mundial da Segurança dos Alimentos, celebrado no dia 7 de junho, a Strategic Alliance of Catholic Research Universities (SACRU) concentra sua atenção na questão da segurança mundial dos alimentos, que corre um risco agravado pelo conflito na Ucrânia. A biodiversidade, o desenvolvimento de sistemas locais de alimentos, e a cooperação entre consumidores e empresários são algumas das intervenções propostas pelos especialistas da SACRU para conter as desigualdades de alimentação no mundo e promover uma nova forma de desenvolvimento econômico que proteja o meio ambiente e a humanidade  

 

A guerra entre Rússia e Ucrânia fechou a cesta de pães do mundo. Os dois países são grandes exportadores de trigo, grãos, mas também de fertilizantes agrícolas. Os preços em alta e a escassez de suprimentos ameaçam desencadear uma crise alimentar, agravando uma situação já crítica que prejudicaria o continente africano de forma significativa. Os dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) são claros: 600 milhões de pessoas adoecem por ano devido ao consumo de alimentos contaminados, e mais de 200 doenças são causadas por alimentos contaminados por bactérias, vírus, parasitas ou produtos químicos. De acordo com estimativas precoces, é provável que a atual guerra aumente os números de pessoas desnutridas em 13 milhões.

Na ocasião do Dia Mundial da Segurança dos Alimentos, a Strategic Alliance of Catholic Research Universities (SACRU)  forneceu uma visão geral da questão que afeta a saúde, a economia e a geopolítica. A SACRU é uma rede de oito universidades católicas de quatro continentes que cooperam para promover uma educação global pelo bem comum e excelentes pesquisas interdisciplinares inspiradas pelo ensino social católico. Uma das principais áreas de concentração das preocupações das atividades da SACRU foi a de Segurança dos Alimentos, particularmente com o estabelecimento de um Grupo de Trabalho dedicado a analisar problemas associados ao desenvolvimento de produtos alimentícios e ao estudo dos regulamentos de segurança dos alimentos em diferentes países.

 

“A segurança dos alimentos é atingida quando existem condições que preservem a integridade dos alimentos e que previnam a contaminação por agentes biológicos ou químicos que possam causar doenças”, observa Pier Sandro Cocconcelli, professor docente de Microbiologia dos Alimentos na Università Cattolica del Sacro Cuore. Cocconcelli ressalta que a segurança dos alimentos depende de “alguns fatores relacionados a todas as etapas do sistema dos alimentos, inclusive o meio ambiente, a saúde de plantas e animais, a ração, os ingredientes de alimentos, materiais de contato com os alimentos, aditivos e nutrição, na chamada abordagem ‘do campo à mesa’”.

 

A segurança dos alimentos não afeta apenas a vida das pessoas. Como explicam Alicia Orta Ramirez e Xavier Almirall da Universitat Ramon Llull, “impacta fortemente o desenvolvimento socioeconômico dos países, afetando diretamente os sistemas nacionais de saúde, câmbio, turismo e a economia”. Além disso, as mudanças que estão ocorrendo no contexto mundial geopolítico têm um impacto importante na segurança dos alimentos, pois “guerra, escassez de recursos, desastres ambientais, colapsos econômicos e crises humanitárias favorecem situações em que a segurança das reservas de alimentos é comprometida em vários níveis”.

Desde a eclosão da guerra entre Ucrânia e Rússia, as exportações ucranianas de trigo, milho e óleo de girassol desabaram, afetando principalmente os países africanos. De acordo com Bo Wang, palestrante na Faculdade de Ciências de Comportamento e Saúde da Australian Catholic University, essa dinâmica carrega a possibilidade de populações em situação de fome  “considerem alternativamente animais selvagens como fonte de proteína, com todos os riscos concomitantes em termos de transmissão de patógenos de animais para humanos”.

 

O aumento dos preços de commodities é uma das principais ameaças à segurança dos alimentos. “ Avaliações precoces do impacto da guerra indicam um aumento de 13 milhões de pessoas desnutridas a curto prazo", aponta Paulo Esteves, professor associado do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Para Esteves, no entanto, o buraco é mais embaixo e o dano ambiental causado pelos sistemas de alimentação, que “são grandes emissores de CO2 e incapazes de garantir o direito dos cidadãos a alimentos adequados”, também devem ser considerados. Infelizmente, essa crise alimentar “afetará os mesmos grupos desproporcionalmente afetados pela pandemia, criando uma crise humanitária,” conclui Esteves.

A ênfase na perspectiva ambiental é compartilhada por Takeshi Ito, professor da Sophia University’s Graduate School of Global Studies em Tóquio, que acredita que o acesso a alimentos saudáveis, nutritivos e suficientes só será alcançado se “mudarmos nosso foco da escassez para uma agricultura que coloque em primeiro plano o princípio da biodiversidade e que reconheça a interdependência entre os humanos e a natureza”.

Fernando Mardones, pesquisador na Faculdade de Medicina Veterinária na Pontificia Universidad Católica de Chile, espera que “os sistemas locais de alimentos e comunidades rurais de pequenos produtores em países de baixa renda tenham apoio, e a capacidade de pesquisa e habilidades fortalecidas por fundos de treinamento e pesquisa interdisciplinar para cientistas e profissionais da área”.

Nesse cenário, os esforços unidos dos consumidores e dos empresários de alimentos também são cruciais. “As expectativas dos consumidores são complexas, já que, por um lado, exigem alimentos seguros e convenientes com uma validade longa; e por outro, estão disponíveis em qualquer lugar e podem ser encontrados a qualquer hora: são, sem dúvida, grandes desafios para a indústria alimentícia”, destaca Paula Teixeira, professora associada de Microbiologia dos Alimentos na Universidade Católica Portuguesa. Tomando a produção baseada nas células da carne como referência, Glenn Gaudette, diretor do Departamento de Engenharia da Boston College, acredita que é essencial implementar, simultaneamente com o desenvolvimento de novas tecnologias de alimentos, “protocolos de segurança estabelecidos por parceiros do setor para garantir que não sejam criadas mais barreiras econômicas que reduzam o acesso para aqueles que precisam”.

Takashi Hayashita e seus colegas da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Sophia University se concentram na detecção seletiva de bactérias: “A indústria alimentícia geralmente utiliza conservantes sintéticos e antibióticos no processo de produção de alimentos, mas como o uso exagerado de antibióticos estimula mutações genéticas indesejadas nas bactérias, a necessidade de um método de detecção de bactérias que permita a determinação de uma dose específica de um antibiótico é essencial para atingir objetivos de desenvolvimento sustentáveis."


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