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Tipo de Clipping: WEB

Data: 29/11/2014

Veículo: Extra

Projeto de 1968 que nunca saiu do papel, metrô até São Gonçalo ainda é um sonho
29/11/2014

RIO - São 7h15m de quarta-feira em Jardim Catarina, bairro de São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Depois de deixarmos passar um ônibus lotado, eu e outras cinco pessoas entramos em um veículo com algum espaço livre entre as cadeiras ocupadas. Meu destino é a Praça XV, no Centro do Rio. O trajeto, nesse dia, dura uma hora e 40 minutos, mas poderia levar apenas meia hora caso um antigo projeto de mobilidade urbana saísse do papel. Prevista desde 1968, a chegada do metrô à outra margem da Baía de Guanabara traria mais conforto e agilidade a cerca de 750 mil passageiros. Depois de várias mudanças no projeto inicial, a Linha 3, entre Niterói e São Gonçalo, continua engavetada, enquanto a caçula Linha 4, que ligará a Zona Sul do Rio à Barra da Tijuca, segue adiante, com um custo quase duas vezes maior.
Jardim Catarina seria a penúltima estação da Linha 3, promessa antiga que recebeu, há pouco mais de um ano, R$ 1,4 bilhão do governo federal para ser colocada em prática — o projeto atual deve custar R$ 3 bilhões. Em junho deste ano, a Secretaria de Estado de Obras garantiu lançar, até dezembro, o edital de licitação para a obra. A três dias do prazo, o documento ainda está em “fase final de elaboração”, segundo a secretaria. Enquanto os moradores de Niterói e São Gonçalo esperam, a Linha 4 do metrô deve ser inaugurada no primeiro semestre de 2016, e a Linha 5, que fará a conexão entre as estações Carioca e Gávea, passando pelo Jardim Botânico, já está em fase de projeção. 
— Quem sabe os meus netos não veem esse metrô chegar aqui? — brinca a agente de saúde Mazilia Souza, de 36 anos, que divide um pedaço do corredor do ônibus comigo. 
Depois de nove anos trabalhando no Centro do Rio, Mazilia cansou-se das cinco horas diárias que perdia dentro do transporte coletivo e pediu demissão. Moradora de Jardim Catarina, ela hoje estuda enfermagem em Niterói e trabalha perto de casa, em São Gonçalo mesmo. A qualidade de vida aumentou, mas a renda diminuiu. 
— Os melhores salários estão do lado de lá — explica, enquanto olha o mar pela janela. 
O projeto original do metrô no Rio é de 1968. Nele, previa-se que em 1990 a Linha 2 se estenderia desde Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, até Niterói, passando por baixo da Baía de Guanabara. Em 1976, três anos antes da inauguração do primeiro trecho da Linha 1, já se planejava prolongar o metrô até o bairro de Alcântara, em São Gonçalo — a cidade é a segunda mais populosa do estado, com cerca de um milhão de habitantes, segundo o IBGE. 
Em 2000, um estudo contratado pelo BNDES comprovou que o túnel por baixo do mar seria viável, e a ligação entre as estações Carioca, no Centro do Rio, e Guaxindiba, em São Gonçalo, beneficiaria 750 mil passageiros por dia — atualmente, as linhas 1 e 2, juntas, transportam 800 mil passageiros em dias úteis. O mesmo estudo calculou que o tempo de viagem entre os dois extremos não passaria de 30 minutos. Em 2009, o Tribunal de Contas da União (TCU) barrou esse projeto por suspeita de sobrepreço. Em 2011, o Governo do Estado apresentou o atual esquema — na época, a obra seria concluída em 2014. 
Às 8h15m, uma hora depois de iniciarmos o trajeto, chegamos ao Centro de Niterói. Meus companheiros de ônibus dizem que o trânsito ajudou, pois ficamos menos de 30 minutos parados no engarrafamento. Mazilia desceu antes, a caminho da faculdade. A vendedora Claudine Oliveira, de 24 anos, que pegou o coletivo conosco em Jardim Catarina, ainda precisa tomar outra condução para chegar ao trabalho, em São Francisco, na Zona Sul de Niterói. Ela leva, em média, duas horas no trajeto de sua casa até o emprego, uma hora e 13 minutos a mais do que a média na Região Metropolitana do Rio (segundo estudo do Ipea de 2013, os cidadãos fluminenses gastam em média 47 minutos para chegar ao trabalho, o maior índice do país). 
— Com o metrô eu perderia bem menos tempo. Mas não acredito que um dia ele saia, não — diz Claudine, antes de correr para pegar o outro ônibus.
A ligação entre Rio e Niterói por baixo da terra já foi descartada. O projeto atual, de 2011, prevê uma estação intermodal para ônibus, barcas e metrô no Centro de Niterói. O metrô também foi substituído por monotrilho, uma espécie de bonde moderno que corre pela superfície, cuja capacidade é menor que a de um trem do metrô. Com as alterações, o custo da Linha 3 caiu de R$ 5 bilhões para R$ 3 bilhões, e a expectativa de público diminuiu de 750 mil para 350 mil passageiros por dia. A linha 4 custará quase o triplo, R$ 8,8 bilhões, e transportará cerca de 300 mil passageiros ao dia. 
— O projeto da Linha 3 chegando até a estação Carioca está pronto há 15 anos. É sofisticado, mas passar por baixo do mar é o mesmo que escavar por baixo de um morro. A falta da ligação entre Rio e Niterói empobrece o projeto. Na própria estação Carioca já existe uma estrutura que foi construída para receber essa linha. Se tivesse sido feita naquela época, a obra já estaria paga — argumenta Alexandre Rojas, especialista em transportes e professor da Uerj. — É dificil dizer o que é mais prioritário, tanto São Gonçalo como a Barra têm demandas importantes. Quando se deseja, as coisas são feitas.
Às 8h30m, parto na barca Itapuca em direção à Praça XV. A embarcação, com capacidade para 2 mil passageiros, foi construída em 1962 e ainda opera no horário do rush. O consultor Felipe Ayres, de 24 anos, reclama do calor e da demora no trajeto — a barca tradicional faz o percurso em 25 minutos, enquanto os catamarãs sociais, mais modernos, levam menos de 15.
— É uma dor diária pegar essa barca caindo aos pedaços. Sempre chego suado ao trabalho. Prefiro passar duas horas dentro do ônibus do que pegar a barca, mas ultimamente o trânsito até o Centro do Rio também está insuportável — reclama Felipe, que mora no bairro do Fonseca, em Niterói.
Ex-diretor do Metrô Rio e professor da PUC-Rio, o engenheiro de transportes Fernando Mac Dowell não vê problemas na alteração do projeto original da Linha 3. Ele explica que os passageiros oriundos do metrô serão atendidos pelas novas barcas chinesas encomendadas pelo governo estadual, que terão capacidade para duas mil pessoas cada e deverão começar a operar a partir do segundo semestre de 2015. Ele se preocupa, no entanto, com a chegada dessa multidão à Praça XV, onde não há conexão com qualquer transporte de massa.
— O governo Cabral encomendou sete lanchas modernas para fazer a travessia, mas os ônibus comuns não conseguirão atender à demanda. Serão 24 mil pessoas chegando à Praça XV por hora. É essencial a ligação do Estácio à Carioca, e depois à Praça XV. É uma obra barata, pois parte da estrutura já está pronta — explica Mac Dowell, que também alerta para o fluxo gerado em direção ao Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí, que seria incluído na Linha 3 em uma segunda fase de obras, ainda sem previsão. — O Comperj será crucial para o desenvolvimento do Rio e da Baixada. O caminho natural seria o passageiro pegar o trem ou o metrô até a Praça XV e, depois da barca, seguir no monotrilho até Itaboraí. 
Às 8h55m, chego à Praça XV. No burburinho do desembarque, encontro Célia de Oliveira, de 37 anos. A assistente administrativa saíra de casa, no bairro de Trindade, em São Gonçalo, às 6h30m, e ainda caminharia mais 15 minutos até o escritório de advocacia onde trabalha. Ao todo, seriam 2h40m no trajeto de casa ao trabalho. Chegaria atrasada, como quase sempre.
— Teve um dia em que peguei um engarrafamento enorme na BR-101 e cheguei ao trabalho quase às 11h. A chefe me mandou voltar — conta Célia, enquanto seca um pouco do suor que escorre pela testa. — Mas me conta, vão fazer esse metrô mesmo?
De acordo com a Secretaria de Estado de Obras, “o edital de licitação da Linha 3 está em fase final de elaboração. Após a sua divulgação, serão iniciados os procedimentos para contratação da implantação, operação e manutenção do sistema. As obras têm prazo de 48 meses para o início da operação e de 62 meses para a entrega e funcionamento de todas estações previstas. A linha terá 14 estações e 22 quilômetros de extensão, entre o Centro de Niterói e o bairro de Guaxindiba, em São Gonçalo. Cada viagem deve durar 40 minutos”.
Célia, Felipe, Claudine, Mazilia e eu agradecemos.


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