Tipo de Clipping: WEB
Data: 31/01/2015
Veículo: Extra
Com argila em uma das mãos e uma espátula na outra, o artista plástico Gabriel Barros, de 26 anos, começa, aos poucos, a dar forma a um dos adereços mais tradicionais do carnaval: as máscaras. Mas o resultado do seu trabalho, assegura, não fica mais restrito às ruas nos dias de folia e pode ser apreciado como peça de design na decoração de ambientes.
Nesta época do ano, porém, não tem jeito: suas criações vão parar nos rostos dos foliões. Há dois anos responsável pela confecção das máscaras da Fábrica Condal, Barros já finalizou sua última criação, a presidente da Petrobras, Graça Foster.
— Trabalhamos com temáticas, principalmente os períodos de manifestações folclóricas como halloween, carnaval e festas juninas. Mas, atualmente, também temos encomendas de alguns pais que querem, no quarto dos seus filhos, máscaras de super-heróis ou personagens de desenhos animados — diz Barros, formado pela Escola de Belas Artes da UFRJ.
ESPECIALISTA EM POLÍTICOS
Ele diz que sua especialidade são os políticos, mas já reproduziu os rostos de Michael Jackson, Shrek e Capitão América, além de animais como tigre, gorila e babuíno. A confecção de uma máscara pode demorar até uma semana, dependendo da complexidade do rosto do “homenageado”:
— A maior dificuldade na da Graça Foster, por exemplo, são as marcas de expressão. Temos que chegar o mais próximo da realidade, mas também temos que nos preocupar em produzir uma máscara que se encaixe em qualquer rosto.
A máscara de palhaço, uma das mais tradicionais, é uma das preferidas de Olga Valles, proprietária da Condal e viúva de Armando Valles, que fundou a empresa em 1958, em São Gonçalo.
— É uma fábrica de sonhos. Com uma máscara, a pessoa pode ser o que quiser: um animal, um palhaço ou um monstro. A máscara tem glamour e mexe com o nosso imaginário e sentimentos. Se colocarmos uma máscara engraçada, por exemplo, a alegria vai contagiar o ambiente — afirma.
Dezenas de peças decoram o escritório de Olga. Alguns exemplares são da década de 1950 e feitos de tarlatana, um tecido de algodão fino e encorpado.
— A história da empresa está toda aqui. Tenho versões das máscaras da presidente Dilma, de Lula, Joaquim Barbosa, Aécio Neves, Tiririca, José Dirceu, Brizola, Sarney e até de Barack Obama. Mas, em casa, tenho algumas máscaras africanas que decoram minha sala — comenta Olga.
A Condal reúne mais de três mil moldes diferentes, e sua produção mensal chega a 25 mil peças, exportadas para alguns países europeus, como Itália e França. Mas Olga explica que a fábrica só começou a reproduzir rostos de políticos nos anos 80, após o fim da ditadura militar:
— Por meio das máscaras, meu marido contava o que acontecia na política brasileira. O episódio do mensalão e o período Collor são dois bons exemplos.
A responsável pelo colorido das máscaras é Zélia do Carmo, 65 anos, há mais de 40 anos na empresa.
— Apesar de não participar da folia, quando vejo uma pessoa fantasiada, a felicidade é muito grande. Ninguém sabe que, por trás de uma máscara, há todo um trabalho minucioso — comenta Zélia.
ELEMENTO CÊNICO
O mais simbólico elemento de linguagem cênica, a máscara tem seu espaço garantido na decoração, afirma a mestre em design pela PUC-Rio, Luciana Barbosa de Souza. Em linhas gerais, é possível perceber a noção de design embutida em peças confeccionadas a partir das mais diversas estruturas, diz:
— Passamos a olhar para os fenômenos da cultura brasileira como campos para o estudo, e a produção de um design alinhado com o contexto no qual estaria inserido. Trabalhos que tinham como tema danças populares, culturas de comunidades remanescentes de quilombolas e carnaval passaram então a surgir.