Revista O Globo

Tipo de Clipping: WEB

Data: 24/01/2016

Veículo: O Globo

Lapa ganha hotéis que apostam em design e sofisticação
24/01/2016

Com a reabertura do Hotel Bragança, bairro mostra vocação que vai além da boemia

RIO - “Já viu o que tem aqui no chão, logo na entrada?”, pergunta o arquiteto Manuel Fiaschi, enquanto limpa o mármore coberto por uma fina camada de poeira, resultado dos últimos dias de obra no local. Um inesperado desenho de um gato aparece aos poucos na soleira, aos pés dos visitantes. “É que dentro do antigo hotel funcionou a elegante Sapataria Gato Preto. Este desenho que mantivemos é original”, emenda o arquiteto. Tudo em volta de Fiaschi tem histórias de cem anos ou mais. O cenário é o Hotel Bragança, uma das construções mais imponentes da Lapa, a poucos metros dos Arcos, que data de 1895 — tendo passado por uma reforma em 1910, quando ganhou, além de novos andares, dois torreões. Nos anos 1940, deixou de ser hotel. Em 2014, quando a última obra começou, o prédio estava completamente deteriorado.

Não falta muito para cariocas e turistas poderem ver de perto o gato preto no mármore, os torreões, as paredes com pedras centenárias expostas e uma porta de madeira que fazia parte da construção original. Em quatro meses, o Bragança, que no passado já foi frequentado por nomes como Noel Rosa e Di Cavalcanti, será reinaugurado e se juntará a outros estabelecimentos da região que mostram que a Lapa tem vocação para ser muito mais do que um bairro boêmio. No final de 2014, foi a vez do Vila Galé, na Rua do Riachuelo, “um oásis em meio ao bairro”, como seu gerente geral Vasco Pinheiro define, com piscina, bar, dois restaurantes e spa. Em 2015, veio a inauguração do Da Lapa Design Hotel, que leva a assinatura do arquiteto Hélio Pellegrino e é chamado pelo próprio de “hostel-boutique”.

— Guardadas as devidas proporções, dá para fazer uma comparação entre a Lapa e o Soho — arrisca o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Estado do Rio de Janeiro, Alfredo Lopes, referindo-se à revitalização do bairro nova-iorquino. — A Lapa ganhou um certo glamour, e os hoteleiros começaram a achar que era hora de investir.

Um desses investidores foi Pellegrino, que diz que ser empreendedor no Brasil é “quase como ganhar uma medalha de honra ao mérito do anjo Gabriel”. O arquiteto não abandona o bom humor nem para falar sobre as dificuldades que enfrentou para colocar o Da Lapa de pé. Deve ser porque todo o esforço vem sendo recompensado. A taxa de ocupação para o carnaval, por exemplo, já está em quase 100%.

Juntamente com o sócio Conrado Denton, ele construiu um hotel que mais parece uma galeria de arte, sempre na base do reaproveitamento. Transformou gavetas velhas de madeira e frasquinhos de perfume em luminárias; fez quadros com jornal e coador de café; usou azulejos antigos virados do avesso em algumas paredes (“Porque a parte de trás é linda e ninguém vê!)”; aproveitou bancos antigos para fazer estruturas que servem a vasos de plantas.

— Foram dois anos para ficar pronto. A parte de baixo do imóvel era livre e, em cima, existia um monte de quartinhos, um ao lado do outro, como um cortiço. Era tudo podre, acabado — explica o arquiteto.

O investimento aproximado foi de cerca de R$ 2 milhões. Hoje, os 26 quartos — 13 compartilhados e 13 suítes —, com diárias que vão em média de R$ 50 a R$ 300 em temporada regular, recebem gente como Josue Guajan, de 31 anos, que vive em Los Angeles:

— Não sabia nada sobre o hotel, mas li um monte de elogios na internet. Cheguei ontem e, apesar do pouco tempo, já vi que não vai ter arrependimento. A localização é ótima, a decoração é linda.

Todo e qualquer check-in de hotel é feito no balcão da recepção, certo? Errado se você estiver hospedado no Bragança. Logo na entrada do hotel, quando ele for inaugurado nos próximos meses, haverá um bar. E é ali que os visitantes serão recebidos.

— O check-in no bar já existe em vários estabelecimentos nos Estados Unidos e na Europa. O conceito deste hotel será mais jovem. Por causa disso, nosso foco também será maior nas áreas comuns — explica o arquiteto francês Jean de Just, um dos responsáveis pelo empreendimento, que terá 120 quartos, contando os do prédio principal e de um anexo na parte de trás.

Se antes um quarto de hotel tinha cama, poltrona e mesa de escritório, ou seja, era voltado para quem se hospedava e gostava de ficar mais recluso, hoje a história é outra.

— Sabemos que, com um público mais novo, as áreas comuns, como o restaurante, o bar e a academia, é que serão mesmo frequentadas — afirma Ângela Freitas, uma das sócias do hotel, que será administrado por uma rede americana, cujo nome ainda não foi divulgado.

Foi a paixão por prédios antigos e a vontade de restaurar um imóvel em ruínas, nas condições em que estava o antigo hotel, que levaram Ângela e outros sócios a escolherem o Bragança para estabelecer negócio. O investimento total foi de cerca de R$ 60 milhões. A localização e os bons ventos que sopram a favor da Lapa também contaram, claro.

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— Ele é muito bem localizado, perto de grandes empresas, ao lado da Sala Cecília Meireles, próximo ao Aeroporto Santos Dumont. Estamos confiando muito na revitalização do bairro, o hotel vai ter um papel importante nisso — diz Ângela.

Como o imóvel é preservado pelo Patrimônio Histórico, o projeto de reforma levou cerca de dez meses para ser aprovado. Em meio às obras, os arquitetos responsáveis pelo restauro se depararam com questões como a cor do gradil das varandas dos quartos.

— Tínhamos optado por cinza chumbo. Em um dos encontros com os representantes do Patrimônio, eles nos contaram que os prédios nobres de destaque, antigamente, tinham gradil preto. A cor era uma espécie de distintivo. Fizemos o teste e realmente o preto ficou muito melhor — explica o arquiteto Manuel Fiaschi.

No tempo em que o preto era a cor dos gradis das construções importantes, o Centro, incluindo a Lapa, era apinhado de grandes hotéis. O antigo Bragança servia diretamente aos políticos, como explica o arquiteto e urbanista Washington Fajardo, presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade.

— Não foi à toa que o Filé à Osvaldo Aranha surgiu no bar Cosmopolita, logo ao lado do Bragança. O próprio estava sempre por lá. Havia uma vida cosmopolita na região, pessoas que chegavam e saíam o tempo todo — explica Fajardo.

O arquiteto afirma que o retorno dos hotéis ao bairro confirma uma tendência de centralidade para a região:

— Estes empreendimentos olham para o cenário pós-olímpico, em que você terá uma nova frente marítima do Centro e o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), uma conexão de qualidade entre o aeroporto e a rodoviária, entre a Central e as barcas.

Fajardo chama a atenção para o fato de que não se pode descuidar da qualidade e da segurança do espaço público. O mesmo afirma o empreendedor e pesquisador do Núcleo de Economia Criativa do Instituto Gênesis da PUC-Rio Leo Feijó, um dos responsáveis pela Lapalê, feira literária do bairro que vai reunir, em sua segunda edição, em abril, artistas, historiadores e escritores:

— É essencial que esses grupos assumam e reformem os prédios históricos. Imóveis como o antigo Bragança, quando abandonados, juntam sujeira, agravam questões sociais. A vinda desses hotéis tende a fazer com que governo e prefeitura fiquem mais presentes. Acredito que o processo só estará completo quando o poder público der um jeito nas casas abandonadas do entorno.

Imóveis assim fazem parte da memória do bairro.

— A Lapa é uma marca internacional, e cada vez mais turistas procuram a região — diz Feijó.

A professora aposentada Mônica Campos dos Santos, de 79 anos, lembra bem do tempo em que o irmão estudava no Colégio Mabe, na Rua do Riachuelo. Eram os anos 1960. Naquela época, no entanto, ela jamais imaginou que iria se hospedar naquele mesmo local cinco décadas depois. A antiga escola deu lugar ao Vila Galé, um hotel com nada menos do que 6.600 metros quadrados de área, um tamanho que impressiona aqueles que sequer imaginam um espaço livre desses em um bairro como a Lapa, com direito a piscina no centro do terreno.

— Resolvi ficar porque estava com um problema de saúde e não conseguiria voltar ao meu apartamento. Já sou hóspede há quatro meses e me sinto em casa. Digo que, se um dia ganhar na loteria, viro sócia deste hotel — brinca.

A construção original era um palacete do fim do século XIX. Na década de 1930, o local passou a abrigar o Hotel Magnífico. Nos anos 1940, virou escola. Até que, no final de 2014, depois de uma reforma que recuperou várias áreas do terreno, além de ter construído uma torre na parte de trás com 14 andares, transformou-se no atual Vila Galé, administrado por um grupo português.

— Depois de diversas análises feitas pelo grupo, chegou-se à conclusão de que Copacabana, Ipanema e Leblon já estão preenchidos e com valores muito altos. Assim, decidiu-se por uma trajetória diferente — afirma Vasco Pinheiro, gerente geral do hotel.

A decisão foi acertada. Os 292 quartos, cujas diárias partem de R$ 405 em temporada regular, contam com uma taxa de ocupação quase sempre acima de 50%. Para carnaval e Olimpíadas, todos eles estão praticamente ocupadas:

— Queremos também atrair os próprios moradores do Rio, que podem frequentar nosso bar, os restaurantes (são dois, um com cardápio à la carte e outro com bufê) ou usar as áreas comuns, como a piscina, a academia e o spa, com um passe para o dia (day use) que custa R$ 250.

 


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