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Tipo de Clipping: WEB

Data: 21/04/2017

Veículo: Extra

Bandidos aproveitam má conservação de túneis e policiamento insuficiente para praticar assaltos
21/04/2017

RIO — À metrópole entre montanhas, são imprescindíveis. Muitos dos 28 túneis que abrem caminhos ao trânsito nos subterrâneos cariocas, no entanto, tornaram-se calabouços sombrios. Não só pela penumbra, pela fuligem e pelas infiltrações, mas também por causa da má conservação, que os deixa ainda mais soturnos, e pelas histórias frequentes de violência, como a suspeita de arrastão que causou pânico e provocou o fechamento do Rebouças por dez minutos, anteontem. Viraram territórios de medo, de motoristas e pedestres encurralados. Realidade da qual não escapam nem os mais bem monitorados e iluminados, como o Túnel Marcello Alencar, na Zona Portuária, que, um ano depois de inaugurado, já foi aterrorizado pelo menos duas vezes por criminosos armados.

No ranking dos mais tenebrosos, o João Ricardo, na Central do Brasil, e o Noel Rosa, entre Vila Isabel e o Riachuelo, são hors-concours. O primeiro é um dos mais antigos do Rio, inaugurado em 1921 debaixo do Morro da Providência. Até passou por melhorias recentes, como a instalação de guarda-corpos entre as passagens de pedestres e as faixas de rolamento. Porém continua assustador. Tentar mantê-lo limpo é a tarefa do gari Marcelo Rosa há oito anos. E o que ele costuma encontrar enquanto varre as canaletas do túnel é revelador.

— Não há um dia em que eu não ache uma faca ou um pedaço de pau que os cracudos usam para assaltar pedestres e motoristas — diz Marcelo, contando que a ação dos assaltantes é facilitada por um buraco na pista que fica num trecho de transição entre o pavimento de paralelepípedo e o asfalto. — Coloquei um cone ali para alertar os motoristas. Mas muitos acabam virando alvos de bandidos quando reduzem a velocidade.

Durante o dia, a atendente Tatiana da Silva até se arrisca a passar pelo João Ricardo. Mas, com medo, sequer cogita atravessá-lo de noite:

— Meu namorado mora na Rua do Livramento (a poucos metros do túnel). Ele costuma me buscar na estação do metrô da Central do Brasil. E, para chegar à casa dele, damos a volta na Praça Mauá. O caminho é muito mais longo. Mas é impossível passar pelo túnel depois das 18h.

Quando não são os usuários de drogas, são os tiroteios na Providência que amedrontam. Ou, então, traficantes que intimidam quem precisa ir da Central à Gamboa.

— Isso aqui não é um túnel, é um buraco. Quantas vezes já não passei aqui e vi traficantes armados, circulando pela contramão, de moto? Perto do acesso ao túnel, na Rua Barão de São Félix, há duas bocas de fumo. A partir do fim da tarde e nos fins de semana, este lugar vira um faroeste — afirma um taxista, que preferiu não se identificar.

A violência chama tanto a atenção que muitos nem percebem a cachoeira de água e esgoto que, há anos, mina no acesso à Rua Rivadávia Corrêa. Ela é usada por moradores de rua para tomar banho. Situação que não difere muito da vista no Noel Rosa, o primeiro túnel construído para ligar dois bairros da Zona Norte da cidade, em 1973. No lado de Vila Isabel , ontem, um grupo tentava fazer com que uma poça de esgoto escoasse na saída da via. Já na entrada da galeria em direção ao Riachuelo, o lixo jogado do Morro dos Macacos se acumulava na beira da pista. São só alguns dos problemas do túnel, que não raramente fica às escuras devido a roubos dos cabos de energia.

— Fica um breu — conta o servente de pedreiro Jackson de Oliveira, que, apesar dos riscos, atravessava o túnel de bicicleta, ontem. — Quando o túnel está sem luz, não passo nele de jeito algum. Dou uma volta de uns 40 minutos, pelo Méier. Este túnel é perigoso, sim.

Ele não fala sem fundamento. Ontem pela manhã, até havia uma blitz da PM próximo ao acesso ao túnel em Vila Isabel. Bastava atravessá-lo, no entanto, para, do outro lado, as carcaças de dois carros incendiados lembrarem que aquela era uma zona quente. As interdições devido a tiroteios povoam o noticiário. Assaltos também. Em 2015, por exemplo, bandidos atiraram no advogado Joadino Ribeiro mesmo depois de ele ter entregado sua moto.

‘ILUMINAÇÃO É FUNDAMENTAL’

Engenheiro de transportes e professor da PUC-Rio, José Eugenio Leal afirma que a má conservação costuma aumentar a sensação de insegurança nos túneis. Ele lembra que, nos últimos anos, muitos passaram por melhorias. Apesar do asfalto esburacado e da sujeira, o Noel Rosa entrou no cronograma de obras em 2016. Outros, como o Martin de Sá (entre o Catumbi e a Rua Riachuelo, no Centro) e o Túnel Velho (entre Botafogo e Copacabana), foram revitalizados antes da Olimpíada. O problema é que nem sempre há manutenção adequada.

— Os túneis são essenciais para a cidade. Quando param é um caos, causam congestionamentos em cascata. Para mantê-los seguros, além da presença policial por perto, a iluminação, por exemplo, é fundamental — diz Leal.

Em Copacabana, o Túnel Sá Freire Alvim, que serviu de apoio às obras da Linha 4 do metrô (Ipanema-Barra), parece ter sido esquecido. A galeria que liga as ruas Barata Ribeiro e Raul Pompeia tem grandes trechos do teto sem revestimento. A sensação é de que, a qualquer momento, azulejos podem cair. Também há refletores apagados e, na passagem de pedestres, é preciso ter cuidado para não pisar em fezes humanas. Ontem à tarde, dois rapazes trocavam de roupa dentro do túnel.

— Já roubaram meu celular ali. Desde então, prefiro dar a volta pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana — lamenta um morador da Rua Djalma Ulrich, que preferiu não se identificar.

Na lista dos túneis do medo, o Rio Comprido-Laranjeiras (conhecido como o da Rua Alice), apesar do bom estado de conservação, é temido por ficar perto de favelas conflagradas. O Túnel Novo, entre Copacabana e Botafogo, bem iluminado desde a Olimpíada, continua contabilizando vítimas de assaltos. O Rebouças, com problemas como falhas no asfalto na saída sentido Zona Norte, costuma ter policiamento em seus acessos e também entre suas galerias, mas situações de pânico como a de anteontem se repetem. O mesmo que acontece no Zuzu Angel, entre a Gávea e São Conrado, onde, no último dia 10, duas pessoas foram baleadas durante um assalto.

Segundo a PM, o patrulhamento vem sendo intensificado nos túneis. “Entretanto, a escassa iluminação (nas entradas, nas saídas e no interior destes), bem como a situação geográfica dos túneis, com áreas de mata ao redor, são elementos que facilitam ações de criminosos. Há ainda o impacto de imagens divulgadas em redes sociais, que difundem pânico aos usuários mesmo sem a confirmação das ocorrências”, diz a corporação. A prefeitura informa que vai intensificar os trabalhos de manutenção nos túneis. A Secretaria de Conservação e Meio Ambiente reconhece que o Sá Freire Alvim e o Noel Rosa precisam de obras. 


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