– A ideia de choque de ordem tem uma receptividade muito grande porque as pessoas se sentem ameaçadas pela desordem – analisa o professor de ciências sociais (UERJ), José Augusto Rodrigues. – Percebem que essa bagunça é uma espécie de fotografia dessa violência difusa. Mas os desordeiros são sempre percebidas como os outros.
Fora do ponto e no meio da rua
A desobediência às normas pode estar em atos aparentemente sem maiores consequências, como embarcar ou desembarcar em ônibus fora dos pontos. Ou, ainda pior, fora do ponto e no meio da rua. A cena pode ser vista em qualquer região da cidade, a qualquer hora. O pedestre se esgueira por entre os carros, muitas vezes em movimento, dá umas batidinhas na porta com a mão – quase sempre contando com a boa vontade do motorista – e embarca.
– Os passageiros pedem não só para parar, mas para embarcar fora do ponto. Muitas vezes correndo risco de serem atropelados. E se não atendem ao pedido, xingam. A determinação das empresas é que os motoristas parem apenas no pontos determinados. Se param em outro lugar, a empresa é multada. O número de multas em decorrência disso é muito grande. Principalmente nas Avenidas Rio Branco e Presidente Vargas – conta o vice-presidente da Rio Ônibus, o Sindicato das Empresas de Ônibus do Rio, Octacilio Monteiro.
A tensão causada pela luta desregrada por espaço entre carros, ônibus e pedestres é aumentada por um meio de transporte que também tem normas para seguir, a bicicleta. Segundo o Código Brasileiro de Trânsito, os ciclistas só podem circular nas calçadas, quando houver autorização e o local destinado for devidamente sinalizado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre a via.
Nas ruas, a bicicleta deve sempre seguir o sentido do tráfego, nunca contra ele. Mas basta um giro pela cidade para constatar que essas normas são constantemente desprezadas e quase nunca são alvo de fiscalização. Antes, porém, das operações de repressão, o professor de ciência política da PUC-RJ, Ricardo Ismael, sugere que se façam campanhas de esclarecimento.
– Acho que de fato há uma cultura política no Brasil que nos faz rigorosos com o comportamento alheio e tolerantes com o nosso próprio. Devia haver uma forma de esclarecimento, de orientação a respeito das mudanças que estão sendo implantadas, para que as pessoas tenham tempo de se adaptar a elas – sugere.