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Data: Sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014
Navios negreiros nos camburões e nos cemitérios
07/02/2014
Walmyr Jr*

A insanidade reacionária acorrenta em um cadeado de bicicleta um jovem nu, em um poste no bairro do Flamengo, acusado por um grupo de justiceiros de ladrão. A Polícia Militar assassina outros seis jovens no morro do juramento acusando-os de serem bandidos e reagirem à intervenção policial na favela. Um adolescente de 10 anos morre em Nova Iguaçu e a Polícia põe a culpa em outros quatro jovens. Os mesmos são linchados pela comunidade e depois são presos. Um vídeo revelado esta semana pelo Jornal Extra detalhou o assassinato de um jovem na baixada fluminense por um grupo de extermínio.

O detalhe que me marca e ao mesmo tempo me choca é que todos esses jovens violentados e exterminados eram negros. Entristeço-me a repetir a fala da Deputada Federal pelo Rio de Janeiro Benedita da Silva ao debater no plenário da Câmara com o polêmico Deputado Jair Bolsonaro sobre a conjuntura da violência na cidade do Rio de Janeiro: “olhei e vi a casa grande e a senzala”
O navio negreiro que traficava os escravos vindo da África continua sendo ferramenta de opressão e repressão que aglutina a população negra dentro de uma senzala, não mais com tronco e chibata, mas com cadeados de bicicletas, espancamento, tiros e humilhações. A fala pelas redes sociais da recém-formada em Direto pela UniRioPaola Bettamio descreve um pouco da minha indignação:

“Toda vez que vejo pessoas apoiando os ‘Justiceiros do Flamengo’lembro-me daquele livrinho do Leonardo Boff chamado ‘A Águia e a Galinha’ e aquela metáfora perfeita de como uma águia dentro de um galinheiro reprime suas condições físicas de voar bem alto e alcançar o céu porque durante tanto tempo no meio de tantas galinhas ela não acredita mais que é uma águia. Embrutecidos pelo sistema violento do capital, nos vemos galinhas, reproduzimos o cocoricó todos os dias e esquecemos da nossa capacidade pra alcançar o céu e as nuvens. Mas não somos galinhas! Esta homogeneização imperialista que reduz o nosso discurso no ‘bandido bom é bandido morto’ é discurso de galinha que só pensa no galinheiro pequeno. Sejamos águias.”

Só para ajudar a pensar com mais carinho nessas circunstâncias, utilizo a fala do estudante de Ciências Sociais da PUC Rio Bruno Costa postada no facebook essa semana:

“De fato essa postura do Estado está resolvendo os problemas sociais da nossa cidade?Eu não imagino como as pessoas conseguem ver isso e achar algo positivo...o discurso geralmente seria: ‘mais um bandido morto, que maravilha! ’Mas será que isso só se resolve com tiro, porrada e bomba?Está na hora de mudar, está na hora desse genocídio acabar! “ Me contento com essas palavras por não conseguir externar a tristeza, comoção e indignação que estou sentindo. Dizer que levar um jovem criminoso para casa resolveria o problema da sociedade, como fez de forma irônica e sarcástica uma a jornalista de uma grande emissora de televisão, revela o racismo e sectarismo que está impregnado na sociedade brasileira. Vivemos ainda um tempo da casa grande e da senzala.

* Walmyr Júnior Integra a Pastoral da Juventude da Arquidiocese do Rio de Janeiro. É membro do Coletivo de Juventude Negra - Enegrecer. Graduado em História pela PUC-RJ e representou a sociedade civil em encontro com o Papa Francisco no Theatro Municipal, durante a JMJ.

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