Isto É Dinheiro Tipo de Clipping: WEB
Data: 08/08/2014
Veículo: Isto É Dinheiro
Está muito caro trabalhar no Brasil
08/08/2014
A estabilidade da taxa de desemprego no Brasil, que se mantém nos níveis mais baixos da história, tem intrigado muita gente, à frente os economistas. Com um cenário de baixo crescimento e inflação, o mercado de trabalho já deveria ter reagido negativamente. Para José Márcio Camargo, economista da Opus Investimentos e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, muitas pessoas pararam de procurar empregos formais e passaram a viver de bico. Segundo ele, o alto custo dos serviços e o tempo perdido no transporte, principalmente nas capitais, não compensam a carteira de trabalho assinada. A consequência é uma economia em estado letárgico. Pela décima semana consecutiva, o Boletim Focus do Banco Central reduziu as projeções de crescimento para este ano. Na última semana de maio, a expectativa era de um PIB de 1,6%, que caiu para 0,86%. “A tendência continua sendo de baixa”, diz Camargo, que já fala em alta de 0,5% para 2014.

DINHEIRO – Por que o Brasil vive sob expectativa de forte crescimento todo princípio de ano e depois a realidade se mostra diferente?
JOSÉ MÁRCIO CAMARGO – As previsões das instituições financeiras sempre foram otimistas nesses últimos dois anos e meio. O crescimento sempre começava em janeiro em torno de 4% e ia caindo com a chegada dos dados, ao mesmo tempo que a previsão de inflação começava em 4,5% e ia subindo ao longo dos meses. Por um motivo básico: um cenário internacional bem desafiador, apesar de ter melhorado significativamente. De 2008 para cá, sempre houve um problema lá fora. Mas neste ano não tem nada, aparentemente. Quando se olham os dados, não tem ninguém crescendo uma maravilha, mas também não tem ninguém em recessão. O que é assustador é que a taxa de crescimento global é muito baixa no mundo desenvolvido, apesar de existir uma taxa de juros próxima a zero, um déficit fiscal muito alto e uma liquidez cavalar na economia mundial. Embora os bancos centrais estejam despejando liquidez, os países estão crescendo no máximo 2%. É muito pouco. Era para estar crescendo 4%.

DINHEIRO – Existe algum risco de uma nova bolha?
CAMARGO – Com uma taxa de juros zero, sempre tem risco de bolha. Vai estourar neste ano? Creio que não, é pouco provável.

DINHEIRO – Então, quando o mundo deixará para trás essa crise conjuntural?
CAMARGO – Essa crise não é conjuntural, é estrutural. Ela começou algumas décadas atrás e foi se intensificando, e creio que não vai sair rapidamente. A origem dessa crise foi a entrada dos asiáticos no comércio internacional. Começou quando o Japão destruiu a indústria americana e europeia, na década de 1970. De lá para cá, teve a Coreia do Sul e a China, que dobrou a oferta de mão de obra no mundo, a preços baixos, de um ano para o outro, com a entrada na OMC, em 1999.

DINHEIRO – Nenhum país conseguiu se sustentar?
CAMARGO – O único foi a Alemanha. E não foi porque eles são melhores que o restante. Foi porque tiveram um azar, que foi uma sorte – a queda do Muro de Berlim. Quando o muro caiu, a Alemanha Oriental tinha uma produtividade muito mais baixa que a da Ocidental, o que fez a taxa de desemprego explodir. A economia da Alemanha Oriental não conseguia competir com ninguém e eles tiveram de fazer todas as reformas necessárias para se transformar numa economia competitiva. Isso servia para o lado ocidental também. Então, eles passaram dez anos fazendo reformas, com desemprego alto e crescendo pouco. Na crise, a Alemanha estava ajustada. Perdeu a década de 1990 e o início de 2000. Quer dizer, ganhou.

DINHEIRO – A solução é repetir o que a Alemanha fez?
CAMARGO – Todos os países têm de fazer algumas reformas. Não as que a Alemanha fez, porque lá era um caso único. O mundo, hoje, está aberto em comércio e finanças em geral. Isso significa que todos os países estão competindo entre si. É preciso fazer reformas para que a produtividade do país cresça porque quem não tiver produtividade não vai conseguir competir. Não tem jeito. É só comparar a Itália com Portugal. A Itália não consegue sair do lugar. Não consegue fazer nada por razões políticas. Ao contrário de Portugal, que já fez muitas reformas e, muito provavelmente, vai sair mais cedo da crise do que a Itália. Uma comparação melhor: a Inglaterra já fez quase tudo que tinha de ser feito para se tornar competitiva. É a economia que provavelmente vai crescer mais no mundo, tirando a China, acima de 3%. Para o cenário atual, é uma porrada. Os países, inclusive o Brasil, vão ter de ser cada vez mais competitivos.

DINHEIRO – O Brasil reagiu de maneira errada a esse cenário? Onde o País errou?
CAMARGO – Em 2008 e 2009, o governo brasileiro teve uma reação razoável. Tinha uma recessão forte, a economia estava despencando, a demanda estava caindo. Portanto, era preciso segurar a demanda. Então, os bancos públicos emprestaram dinheiro para consumo, o governo diminuiu o superávit primário e gastou mais, o Banco Central diminuiu a taxa de juros e o crédito ficou mais barato. A demanda voltou, tanto que a economia cresceu 7,5% em 2010. Mas cresceu e simplesmente esgotou toda a sua capacidade ociosa. A taxa de desemprego caiu para menos de 5% da força de trabalho, a indústria ficou com ociosidade zero e, a partir daí, era preciso aumentar a produtividade da economia para que ela se tornasse competitiva, num momento em que os preços das commodities estavam caindo. Estava claro que ia haver problemas de competitividade, mas o governo não fez nada. O crédito do setor público continuou crescendo e a taxa de juros e o superávit primário vieram para baixo. O diagnóstico estava errado. A doença era falta de competitividade. Para o governo, a doença era falta de demanda. Mas demanda tinha.

DINHEIRO – O governo liberou a utilização de R$ 45 bilhões do depósito compulsório dos bancos no BC para incentivo ao crédito. Isso significa que há problema de demanda?
CAMARGO – A decisão veio de forma inesperada, porque o BC avisou que não ia mudar as condições monetárias. Esse crédito para a compra de carro deve ter um efeito pequeno. Não está claro se o problema é de oferta ou de demanda. Os bancos não querem aumentar a oferta de crédito ou as famílias estão mais endividadas e não querem aumentar o endividamento? É difícil saber o efeito dessa medida, porque ninguém sabe onde está o problema. O caso é que as decisões vão em direção contrária, com o BC não querendo diminuir o juro e o governo querendo incentivar o crédito.

DINHEIRO – Se tudo está pelo avesso, por que não há aumento na taxa de desemprego?
CAMARGO – O desemprego não aumenta por duas razões. A primeira é que a taxa de participação está caindo, ou seja, tem menos gente procurando emprego. As bolsas e as transferências de renda desestimulam a pessoa a trabalhar. Por outro, está muito caro trabalhar no Brasil. A pessoa leva quatro horas dentro do transporte, duas para ir trabalhar e duas para voltar para casa, além de ter de pagar caro para comer e ter de desembolsar para alguém olhar os filhos. Como 80% dos empregos criados nos últimos anos são de até dois salários mínimos, a pessoa prefere parar de procurar trabalho e viver de bico.

DINHEIRO – A inflação só vai ceder se o desemprego aumentar?
CAMARGO – Sim, porque significa que não dá para crescer. Para diminuir a inflação dos serviços, é necessário aumentar a taxa de desemprego. Hoje, com taxa de desemprego de 6%, o salário nominal cresce 9%. E, com salário nominal crescendo 9%, a inflação de serviços é de 8,5%. Com esse desemprego, é essa a taxa de inflação. Alguma coisa vai ter de ser feita.

DINHEIRO – Há alguma solução capaz de alterar esse quadro?
CAMARGO – É preciso aumentar a produtividade e a educação é fundamental. A força de trabalho brasileira tem um nível educacional muito baixo. Comparado aos asiáticos, é de dar vergonha. Aqui, 12% da força de trabalho têm nível superior completo. Na Coreia, são 70%. A sociedade brasileira valoriza muito pouco a educação e isso me impressiona muito. Na Ásia, se há um terremoto o pai leva o filho para a escola no dia seguinte e fica esperando o professor na porta da escola. Aqui no Brasil, se chove, não se vai à escola. Isso é uma diferença inacreditável.

DINHEIRO – Mas existe muito incentivo público para a educação, não?
CAMARGO – O Brasil nunca teve um político importante, em nível nacional, que tivesse como prioridade a educação. Nenhum. O falecido Leonel Bri­zola foi o único que tinha como prioridade a educação. E o único que nunca ganhou uma eleição nacional.

DINHEIRO – A presidenta deveria ter trocado alguém da equipe para enfrentar essa crise?
CAMARGO – Não faria diferença nenhuma. Porque é a cabeça dela. Um assessor me disse que o governo acha muito importante intervir no sistema de preços porque é a única maneira de evitar que os oligopólios e os monopólios brasileiros se apropriem de toda renda gerada. Quem quer efetivamente distribuir alguma renda para os trabalhadores tem de ir nos preços dos bens. Por isso, não é um problema de João ou de Pedro. Desse ponto de vista, o Guido Mantega é ótimo. Não é brilhante, mas ficou oito anos sem criar uma grande crise, sobreviveu à crise de 2008. O problema não é o ministro da Fazenda, é o projeto.

DINHEIRO – Dos três principais candidatos à Presidência, algum tem a educação como prioridade?
CAMARGO – É difícil saber. A Dilma nós já conhecemos. O Aécio parece que fez um bom governo na área de educação. Minas Gerais tinha uma defasagem grande em relação à média nacional e hoje é o segundo Estado em melhor situação. Mas ele pegou com uma base baixa, por isso é preciso dar um desconto. Mas é difícil saber se a prioridade dele é a educação. O Eduardo Campos vai focar a saúde. Hoje, o Brasil gasta 13% do PIB com previdência e assistência social e tem 7% de sua população com 65 anos ou mais. Já com o ensino fundamental e médio o gasto chega a 4% do PIB, e tem 30% da população com 15 anos ou menos. Ou seja, gastamos com o idoso 12 vezes mais do que com as crianças e os adolescentes. Isso mostra o que é prioridade.

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