Assim como Luís XIV, o rei do enredo da São Clemente, ‘Onisuáquimalipanse’, Raphaela Gomes, de 18 anos, sentiu ainda em tenra idade o peso da coroa. Com apenas 15 anos, ela já era a mais jovem rainha de bateria da Sapucaí. Caçula da dinastia dos Gomes, sua linhagem inclui o avô, Ivo, fundador da escola; o pai, Renato, atual presidente da agremiação; e a prima, Bruna Almeida, de quem herdou o trono.

Mas, ao contrário do monarca francês retratado pela carnavalesca Rosa Fernandes, Raphaela encara seu cargo com seriedade. Em seu quarto ano à frente da Fiel Bateria, ela entendeu seu grande poder e responsabilidade. “Por eu ser da família, é uma responsabilidade maior. Isso aqui é tudo que nós temos e trabalhamos o ano todo para fazer o desfile acontecer. Pai, mãe, primos, tios, está todo mundo aqui”, diz ela.

A única área na qual a rainha se permite contar vantagem é quando fala da Fiel, com a qual ela se desmancha em elogios. “Com certeza, nossa bateria vai ser uma das melhores. Tem muito ensaio, muito treino, as bossas estão perfeitas. Temos profissionais de uma qualidade absurda. Não tem nenhuma surpresa ou coreografia, só vamos fazer muito bem o que temos que fazer”, gaba-se.A jovem majestade tem ainda uma relação muito mais próxima com seus súditos, os ritmistas. Raphaela é o xodó do mestre Gil, seu primo, e de Caliquinho, seu irmão de consideração. “Não existe rainha e ritmista. É Raphaela e amigos da Raphaela.

Temos um grupo no WhatsApp e fica todo mundo me zoando. Nos falamos todo dia”, declara ela.Como começou a desfilar aos 4 anos de idade, Raphaela não lembra se a relação com o samba foi escolha ou obrigação da realeza hereditária. Ela só se recorda do fascínio infantil que teve ao pisar pela primeira vez na Avenida e do amor pela Amarela e Preta que, para ela, sempre será eterno. “Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Quero passar em todos os lugares da escola. De rainha quero ir para a bateria, para a diretoria, harmonia, baiana, até chegar na velha guarda”, garante.Onisuáquimalipanse: envergonhe-se quem vê malícia. A jovem rainha também difere do Rei Sol por escolher a humildade, em vez da opulência. Tímida, ela evita falar que é rainha.

Na PUC-Rio, universidade onde estuda Administração há um ano, os colegas só descobriram a majestade pela boca de terceiros. “Eu gosto é de falar da minha escola. Da São Clemente amo falar. Não preciso ficar dizendo que sou rainha”, conta.O nome do enredo criado por Rosa Magalhães, ‘Onisuáquimalipanse’, pode causar estranheza, mas é uma transcrição fonética da expressão francesa ‘honi soit qui mal y pense’: envergonhe-se quem nisto vê malícia. Porém, mesmo que procurem, na imagem de Raphaela é difícil encontrar maldade.

Isso porque há uma preocupação que vem desde o barracão para evitar a hiperssexualização da jovem. Em seu primeiro desfile, a rainha veio de funkeira e cruzou a Avenida usando um shortinho.“É normal minhas roupas serem bem comportadas, até porque eu não gosto de me expor muito. Acaba sendo um movimento muito natural também”, diz Raphaela. Na Avenida, porém, Raphaela não deve vir vestida como a monarca que é. “Minha fantasia está bem dentro do enredo, mas não tanto da realeza. Estamos fazendo um misteriozinho”, brinca.

A rotina de beleza em preparação para liderar a bateria é tão intensa que Raphaela tem que pensar por onde vai começar a contar. “Perto do Carnaval, corrijo a alimentação. Faço kickboxing e futevôlei aqui na Praia de Botafogo”, lista. Ela também investiu em peeling e carboxiterapia, tratamento para celulites e flacidez. E você lá precisa disso, Raphaela? “Já estou pensando nos próximos anos”, pondera sabiamente.