Valor

Tipo de Clipping: WEB

Data: 20/03/2017

Veículo: Valor Econômico

Estudo de diretor do BC mede efeito do 7 a 1 na eleição
20/03/2017

A vexatória derrota do Brasil por 7 a 1 para a Alemanha na Copa do Mundo de 2014 representou um choque político de grandes proporções que abriu os olhos dos eleitores para a má situação do país, diminuiu as chances eleitorais da então presidente Dilma Rousseff e levou à mais apertada disputa eleitoral do recente período democrático. Essas são conclusões e conjecturas de um estudo recém publicado pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Viana de Carvalho, em parceria com o professor Eduardo Zilberman, do Departamento de Economia da PUC-Rio.

A relação entre futebol e política é antiga no Brasil, incluindo o uso do sucesso da seleção tricampeã em 1970 pelos militares para reforçar a popularidade da ditadura. Na campanha de 2014, o candidato derrotado no segundo turno,Aécio Neves, chegou a dizer em debates com a ex-presidente que a economia estava perdendo de 7 a 1, com uma taxa de inflação de 7% e crescimento da economia de 1%.

O que Carvalho e Zilberman fizeram de novo foi estabelecer, como o rigor da metodologia científica, a relação entre uma coisa e outra. Em vez de usar dados de pesquisas de opinião, que não são diários no Brasil e costumam refletir com atraso novas notícias que podem influir as eleições, eles examinaram a informação eleitorais nos movimentos de ações de empresas negociadas em Bolsas de Valores. No primeiro pregão depois da humilhante derrota do Brasil, que ocorreu em 8 de julho de 2014, a Bovespa subiu, ignorando quedas nas Bolsas dos Estados Unidos e Europa. "A reação do Ibovespa me surpreendeu", disse ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, naquele dia Álvaro  Bandeira, economista-chefe da Órama Investimentos. "A explicação para a alta é a concentração de ganhos em Petrobras, BR Distribuidora e elétricas que ganharam com a perspectiva de prejuízos eleitorais para Dilma Rousseff na corrida presidencial com a derrota do Brasil na Copa." Uma eventual derrota de Dilma favoreceria ações dessas empresas porque, segundo presumia o mercado, um governo de oposição reduziria o intervencionismo que prejudicava o rendimentos de empresas estatais e em alguns setores da economia.

Esses movimentos nos preços de ações, por outro lado, embutem informações importantes sobre as chances eleitorais de cada candidato. O pressuposto é que o mercado é eficiente o suficiente para medir com precisão como cada evento novo - desde um deslize num debate, uma nova denúncia ou mesmo o resultado de uma partida de futebol - afeta as chances eleitorais dos candidatos.

Carvalho e Zilberman procuram criar uma métrica, ou espécie de régua, para checar se eventos da Copa do Mundo se constituíam de fato um choque político - e para medir seu impacto.

A ideia foi estabelecer como parâmetro o que ocorreu com as 60 principais ações brasileiras após um choque político incontestável: os resultados do primeiro turno, quando Aécio Neves, considerado o candidato com políticas mais pró-mercado, teve um desempenho bem melhor do que o previsto pelas pesquisas.

O passo seguinte foi comparar, usando instrumentos estatísticos um pouco mais sofisticados, o comportamento das ações logo após o primeiro turno com o que aconteceu depois do vexame da seleção brasileira.

Os economistas descobriram que o comportamento das ações logo depois do primeiro turno teve muito em comum com a derrota para a Alemanha e com o fim da Copa do Mundo (tecnicamente, isso é feito com medidas de dispersão, com os cuidados metodológicos que pesquisadores costumam tomar para se assegurar que os resultados são realmente robustos). Ou seja: o vexame da Copa afetou as chances eleitorais de Dilma, e de forma significativa. Outros pesquisadores, usando diferentes metodologias, chegaram a investigar o efeito de eventos esportivos em eleições, mas em nenhum deles o impacto foi tão forte.

Nos Estados Unidos, o pesquisador Andrew Healy concluiu que derrotas dos times locais de futebol americano universitário afetam as chances eleitorais de candidatos em eleições também locais. Mas os efeitos são pequenos e de curta duração, influenciado os resultados eleitorais apenas em disputas muito apertadas.

A interpretação dos estudiosos para resultados como esses é que uma parcela menor dos eleitores erra ao culpar os políticos por algo que eles não são diretamente responsáveis. Como explicar o efeito tão forte no Brasil?

"Um choque político dessas proporções foge dos padrões e não pode ser atribuído a um erro dos eleitores", explicou Zilberman, em entrevista ao Valor.

No estudo, os pesquisadores fazem conjecturas sobre o que ocorreu, cuja prova empírica é mais difícil, talvez impossível. "A substancial punição nas urnas deve ser ligada à genuína insatisfação com o governo", escreveram os pesquisadores no estudo.

A ideia é que a população já estava descontente, e os protestos que ocorreram em todo o país em meados de 2013 seriam um sinal disso. O 7 a 1 no futebol, um esporte que representa muito do orgulho e da identidade da nação, apenas fez cair a ficha sobre o que estava errado na economia e política.

O Valor procurou Carvalho, que hoje ocupa posição central no BC na condução do regime de metas de inflação, que não quis fazer comentários. "O texto ainda vai ser polido e revisado para submissão a um periódico acadêmico e ele não tem nenhuma implicação sobre política monetária ou qualquer outra política do BC", declarou a assessoria de imprensa do Banco Central.O estudo de Carvalho e Zilberman, com o título "Germany 7-1 Brazil: A Political Shock", está disponível na página se textos para discussão do Departamento de Economia da PUC-Rio.


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