Engenheiro culpa pressa por problemas no Túnel
Grota Funda foi interditado por conta de fissuras no teto

A interdição do Túnel da Grota Funda (Zona Oeste), reaberto ontem (13/1) após ficar quatro dias fechado no sentido Santa Cruz, chamou a atenção de engenheiros. Apesar de ter sido inaugurado há pouco mais de sete meses, o teto apresentou fissuras e precisou passar por reparos.
Professor de engenharia de transportes da PUC-Rio, José Eugênio Leal acredita que a entrega da obra tenha sido antecipada.
"É curioso problemas aparecerem com pouco tempo da inauguração, o que pode indicar a antecipação da obra e uma suposta pressa em sua finalização e acabamento. Os buracos no asfalto, dias após sua abertura, são outros indícios dessa pressa".
Segundo o professor de engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) eresponsável técnico pela construção do metrô carioca nos anos 1970, Fernando C, a Prefeitura jamais poderia ter sido surpreendida pelo problema no teto do túnel, que "colocou em risco os usuários".
"O túnel tem que ser monitorado constantemente. Não pode é acontecer de ser pego de surpresa. É claramente um problema estrutural. A parte elétrica não tem a menor condição de afetar o teto", disse ele, que é membro da Associação Francesa de Construção de Túneis. Macdowell rechaçou qualquer possibilidade de as fissuras terem sido provocadas por uma pane no sistema elétrico da via, possibilidade levantada pela Prefeitura. "Obra em túnel sempre é complicada. Por isso, o esquema de sondagens deve ser importante, principalmente a definição do local a ser escavado".
'Surpreendido' com o problema, o prefeito Eduardo Paes prometeu exigir da Odebrecht - que recebeu cerca de R$ 700 milhões pelo trecho entre a Barra da Tijuca e o túnel - as devidas explicações para as fissuras. Sem saber o que de fato ocorreu, ele garantiu que os reparos não afetarão os cofres municipais.
"Tem que entrar no detalhe do detalhe do detalhe, e se necessário, fazer alguma coisa. As construtoras têm que fazer e pagar por isso, pois está dentro do prazo de garantia. A prefeitura não vai gastar um tostão, e a gente exige altíssima qualidade", disse ele, em contraste com os problemas na Transoeste. "Quero um relatório detalhado, pormenorizado, com todas as informações possíveis e imagináveis. Quero laudos, quero detalhes, quero todas as informações para só então liberar as construtoras de todas as suas obrigações".
Solução
Os riscos aos quais a população está exposta, porém, podem ser controlados. De acordo com Willy Lacerda, professor de engenharia geotécnica da COPPE-UFRJ, seria impossível prever fissuras na cobertura do teto do túnel. Segundo ele, a área afetada precisa ser reforçada.
"Quando se faz uma obra desse porte, não se consegue mapear toda a rocha. E, nesta região, é comum encontrar veios e concentrações de minerais que vão degradar em solos expansivos. É difícil diagnosticar isso", aliviou. "Tem de haver chumbamento de ferro e cobrir com aços. Não é que tenha havido um mau projeto, mas essa falha ocorreu. É um acidente de natureza geológica, que é muito complexa, mas pode ser revertida", diz.