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Data: Sexta-feira, 12 de abril de 2013
Todos os homens da presidenta
12/04/2013
Com o preço do tomate nas alturas e a inflação temporariamente fora da meta, Dilma Rousseff reúne seus conselheiros econômicos para debater o assunto. Cabe ao BC não sucumbir às pressões do mercado de elevar os juros
A convite da presidenta Dilma Rousseff, três pesos-pesados da economia, além do ministro da Fazenda, Guido Mantega, participaram de um almoço no Palácio da Alvorada, na segunda-feira 8. A inflação, que voltara a ser assunto no País inteiro, foi um dos temas debatidos pelo heterogêneo trio de economistas Luiz Gonzaga Belluzzo, Delfim Netto e Yoshiaki Nakano, todos conselheiros da anfitriã. Logo na entrada do cardápio, o tomate-vilão-da-inflação estava literalmente à espera dos convidados, na bandeja. Ao contrário do que faria uma dona de casa comum, a cozinha presidencial não substituiu o tomate, cujo preço subiu 122,13% nos últimos 12 meses.


Pesos-pesados: Delfim, Belluzzo e Nakano (no banco da frente) deixam o Palácio da Alvorada
após almoço com Dilma Rousseff e Guido Mantega

Naquele mesmo instante, milhares de usuários de redes sociais replicavam piadas sobre o preço do produto. “Meu Tomate Minha Vida” era uma das anedotas em alusão ao programa habitacional do governo federal. Num momento em que o PIB ainda emite sinais claudicantes de recuperação, o temor de todos que torcem pelo crescimento econômico – grupo ao qual parte do mercado financeiro e a maioria da oposição parecem não estar integrados – é de que o Banco Central (BC) eleve os juros de forma precipitada na quarta-feira 17 ou na reunião seguinte, no fim de maio. Entre os gurus de Dilma, ao menos um deles considera a ideia descartável no curto e longo prazo.

O ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda Gonzaga Belluzzo é uma das vozes mais indignadas com o que classifica como “análises de colegas idiotas”. São economistas que, segundo ele, dão a impressão de que“o País está à beira da hiperinflação, como nos anos 1980. “Isso está completamente fora de cogitação”, afirmou Belluzzo à DINHEIRO. “Há pessoas que acham que o capitalismo deve se resumir ao mercado”, diz (leia trechos da entrevista ao final da reportagem). O ex-ministro Delfim Netto e o professor da Escola de Economia da Fundação Getulio Vargas, de São Paulo (FGV-SP), Yoshiaki Nakano não fizeram comentários sobre o encontro no Palácio da Alvorada.


Deixa que eu chuto: deputados da oposição ironizam na Câmara Federal a inflação do tomate

Porém, em eventos recentes, ambos demonstraram preocupação com a escalada de preços e sugeriram maior controle de gastos correntes do governo para evitar uma sobrecarga no Banco Central. Baseada numa máquina pública inchada, a política fiscal expansionista é um dos argumentos utilizados por economistas que defendem a elevação dos juros. O tom dos críticos aumentou na semana passada, após a divulgação do IPCA de março, pelo IBGE. A inflação oficial acumulada em 12 meses ultrapassou o teto da meta pela primeira vez, desde novembro de 2011, chegando a 6,59%. Ao comentar o resultado, na quarta-feira 10, o ministro da Fazenda reafirmou que o governo não medirá esforços no combate aos preços altos.

“Estamos atentos porque a inflação é prejudicial a toda a economia brasileira”, disse Mantega. É importante notar que os preços dos alimentos – liderados pelo tomate-vilão-da-inflação – tiveram um peso enorme no índice. Elegê-los como bode expiatório, no entanto, parece injusto.“Não se pode jogar nas costas dos produtores a culpa pela inflação”, diz Fábio Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), que cobra do governo federal uma política agrícola que garanta preços mínimos em momentos de safra gorda. Em 2012, diante de um preço baixíssimo gerado pela oferta abundante, muitos produtores jogaram tomate no lixo e desistiram de plantar neste ano.


Bola fora?: a presidenta Dilma Rousseff sabe que o Banco Central
não pode errar na calibragem dos juros. Se exagerar
na dose, o BC pode sufocar a economia

Isso, aliado às chuvas excessivas, contribuiu para reduzir a oferta no primeiro quadrimestre. Num ambiente altamente influenciado por questões sazonais e climáticas, o BC vem adotando a postura cautelosa de esperar um pouco mais antes de mexer na taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 7,25% ao ano. No início do mês, em um seminário organizado pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), em São Paulo, Delfim Netto disse que o BC estava certo em esperar um pouco mais. “Haverá um quadro mais claro lá para o final de maio”, afirmou, sem descartar uma elevação no curto prazo. “Se os juros tiverem de subir, paciência.”

O próprio presidente do BC, Alexandre Tombini, tem se mostrado hesitante, o que gera muitos ruídos no mercado financeiro. Na semana passada, em discurso na PUC do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, ele ressaltou que o órgão continua vigilante na sua missão. “A sociedade brasileira sabe que taxas de inflação elevadas geram distorções na economia, deprimem os investimentos, subtraem o poder de compra de salários e reduzem o potencial de crescimento da economia”, disse Tombini. “Nesse sentido, ações foram tomadas, mas é plausível afirmar que outras poderão ser necessárias.” Caso monitore apenas os preços e ignore o crescimento econômico, a diretoria do BC correrá o enorme risco de esfriar os ânimos do setor privado, num momento em que a prioridade do País é a retomada dos investimentos.




“A atividade está, na melhor das hipóteses, em ponto morto”, diz André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. “O tombo de 2,5% da produção industrial em fevereiro deixa isso claro.” Além disso, um aperto monetário provocaria efeitos negativos nas contas públicas e na balança comercial (veja quadro "7 motivos para o BC não elevar nem exagerar na Selic"). “Elevar os juros não resolverá o problema da inflação de alimentos e de serviços”, diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor do departamento de economia da PUC-SP. “A não ser que promova uma alta cavalar da Selic, que derrube a economia, o que não seria uma decisão inteligente.”

Outro conselheiro de Dilma, o economista Yoshiaki Nakano classificou de “delicada” a situação do setor produtivo durante o mesmo evento da Abimaq. “A indústria do Brasil tem um trio mortal: câmbio apreciado, juros e impostos altos.” Já a economista Zeina Latif, da Gibraltar Consulting, avalia que o Banco Central deveria elevar logo a Selic para segurar os preços e acabar com a polêmica. “O debate sobre inflação é um tremendo retrocesso”, afirma Zeina. “Deveríamos estar discutindo temas mais importantes, como o melhor modelo de concessão na área de transportes.”

Em comum, todos os economistas, independentemente da corrente de pensamento, têm a visão de que o Brasil é um país muito indexado, o que ajuda a ressuscitar o fantasma da inflação de tempos em tempos. “O duro é quando o preço do tomate vira desculpa para elevar tarifa de ônibus”, diz Belluzzo. Em São Paulo, nem a pizza conseguiu escapar da fúria do tomate. O empresário Elídio Biazini, dono da Dídio Pizza, uma rede com 22 unidades, já planeja aumentar seus preços. “Estou pagando R$ 140 pela caixa de 25 quilos de tomates, que antes custava R$ 40”, afirma Biazini. “O tomate normalmente representa de 3% a 4% dos meus custos, mas agora chegou a 15%.” Ele sabe, no entanto, que, se elevar o preço da pizza, correrá o risco de receber tomatadas dos clientes.




“O BC não pode dar uma paulada nos juros”

Conselheiro da presidenta Dilma Rousseff, o professor Luiz Gonzaga Belluzzo está irritado com a pressão do mercado por aumento dos juros.



O atual nível de inflação é preocupante?
A inflação média do Brasil nos últimos 15 anos ficou em 5,7%. Eu ouço alguns colegas idiotas, desculpe a expressão, e parece que estamos à beira da hiperinflação, como nos anos 1980. Isso está completamente fora de cogitação.

O Banco Central deve elevar agora os juros básicos?
É o BC que tem de avaliar. Se achar que não deve subir, não sobe. Mas, depois, tem de ser afirmativo no comunicado, pois isso é um jogo de expectativas entre o mercado e o BC. É assim que funciona o capitalismo. Há pessoas que acham que o capitalismo deve se resumir ao mercado financeiro.

Uma alta dos juros não sufocaria a economia?
O BC precisa ter muito cuidado. Ele não pode seguir a recomendação do mercado e dar uma paulada nos juros. Isso jogaria para baixo a economia e geraria desemprego. A arte é manter o equilíbrio entre a inflação e o crescimento.

Por que a inflação ainda é muito alta no Brasil?
Porque existe uma permanente indexação, que dificulta a queda dos preços. O duro é quando o preço do tomate vira desculpa para elevar tarifa de ônibus.

No almoço com a presidenta Dilma, o tema principal foi a inflação?
Nós não discutimos muito esse negócio de inflação. Nós debatemos outras questões, mas todo mundo está fixado nesse tema. A gente estranha porque parece que faz parte de um jogo de coação, de constrangimento do governo por parte dos especuladores, que estavam fazendo arbitragem com juros e câmbio. Só falta agora deixar valorizar o câmbio. Daí é melhor fechar o botequim.


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