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Tipo de Clipping: WEB

Data: 17/05/2015

Veículo: Extra

Folga no orçamento das famílias é a menor desde 2009
17/05/2015

 RIO - A sobra no orçamento das famílias brasileiras depois do pagamento dos gastos essenciais chegou ao menor nível em seis anos. Cálculo da Tendências Consultoria a partir do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — a inflação oficial no país — mostra que a renda disponível foi de 36,1% em abril, a menor taxa para o mês desde os 35,8% de 2009. O indicador desconta os gastos fundamentais, como alimentos e transportes, por exemplo, mas não leva em consideração outros tipos de despesas — como empregada doméstica ou diarista e cabeleireiro, entre outros — nem o pagamento de dívidas ou de financiamento imobiliário. Analistas ressaltam que, ao contabilizar todos os itens, a folga no orçamento tende a ser ainda menor.

O cálculo da Tendências mostra que nas famílias com renda de até cinco salários mínimos a renda disponível era de apenas 32,7% no mês passado, o menor nível desde os 32,2% de abril de 2009. 
Ao mesmo tempo em que os gastos do dia a dia pressionam o orçamento, o endividamento avança. O comprometimento das famílias brasileiras com o pagamento de dívidas chegou a 22,36% em março, segundo dados do Banco Central, a maior taxa para março desde 2012, quando foi de 22,70%. Para se ter uma ideia, bancos permitem que as famílias comprometam até 30% de seu orçamento com crédito imobiliário. Os gastos com bens essenciais e o endividamento, no entanto, não podem ser somados para saber quanto sobra no bolso. Isso porque, alguns desses gastos podem ser sobrepostos. Uma compra de alimentos no cartão de crédito, por exemplo, pode ser uma despesa com bem essencial e também uma dívida.
— É preciso lembrar que, se a pessoa está endividada, isso tem um impacto adicional no orçamento. Em geral, as pessoas não têm renda sobrando, a não ser em famílias de muita alta renda, e mesmo para essas, a sobra está cada vez menor — afirma o professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha.
MENOS RECURSOS PARA O LAZER
O indicador de renda disponível representa o percentual do orçamento das famílias que fica liberado após pagar itens fundamentais, divididos em seis grupos: habitação (aluguel, energia elétrica e gás), transportes (combustíveis e transporte público), comunicação (telefone e internet), saúde e cuidados pessoais (medicamentos e serviços de saúde, como planos e exames), educação e alimentos. Isso significa que ficam de fora gastos considerados supérfluos, como recreação, vestuário e cabeleireiro, por exemplo.
O levantamento é feito a partir dos pesos de cada item no orçamento, que é baseado na Pesquisa de Orçamentos Familiares do IBGE, que orienta o cálculo da inflação. São duas faixas diferentes de renda, de acordo com o índice de inflação usado. O IPCA considera o orçamento das famílias com renda entre um e quarenta salários mínimos, enquanto o Índice Nacional de Preços ao Consumidor inclui as famílias com renda entre um e cinco salários mínimos. A diferença é que os gastos têm pesos diferentes, de acordo com a renda. Alimentos, por exemplo, pesam mais no orçamento de quem ganha menos. 
— As famílias estão com o orçamento mais apertado. Quando se olha para a série histórica, essa queda da renda disponível é relevante. O problema é que os preços que mais estão subindo são aqueles dos quais o brasileiro não pode escapar, como energia e transporte — explica o economista da Tendências João Morais.
Principal influência da inflação em 2015, o preço da energia elétrica subiu 38,12% até abril e 59,93% nos últimos doze meses. O item respondeu por um quarto (24,56%) da inflação no ano. Os preços de transportes, por sua vez, tiveram alta de 6,86% entre maio de 2014 e abril de 2015, para um aumento de 8,17% do IPCA no período. Os preços administrados — de tarifas públicas — são a maior pressão para o aumento da inflação este ano, com alta acumulada de 13,39% em doze meses. Já o preço de alimentos avançou 7,95% no período.
— Quando se gasta mais com energia, combustível e outros gastos do dia a dia, sobra menos para as despesas que dão sabor à vida, como lazer. O que estamos vendo é que a parte livre do orçamento, que se pode gastar com coisas à sua escolha, está se reduzindo — diz o professor da FEA/USP Heron do Carmo. 
O aumento na conta de luz foi tão alto na casa de Rosa Maria Clemente que ela chegou a ligar para a Light para reclamar. Dias depois, recebeu uma carta da operadora informando que o sistema de leitura de consumo foi verificado e não havia nenhum problema, mas que houve aumento na tarifa. 
— Foi um aumento abusivo. Minha conta de luz vinha em torno de R$ 80 e agora passa de R$ 130. Estamos com muito mais cuidado para evitar desperdício. Passei a apagar a luz na hora de assistir à televisão. No supermercado, escolho outra coisa se o item subiu muito — afirma Rosa, que vende tapiocas na Lapa e mora com a filha, Etelvina, e a neta, Juliana, na Cidade Nova.
Na casa da copeira Charlene Cristina Pereira do Nascimento, as idas à praia e ao shopping com o filho foram reduzidas. O programa agora é chamar amigos e família para comer em casa, com cada um levando um prato. Ao mesmo tempo, as compras no supermercado têm sido menos variadas. 
— Antes, conseguia comprar mais variedade. No caso de biscoitos, por exemplo, compro os que que vêm com mais quantidade, para render mais. Este ano, as contas estão pesando muito — diz ela.
O lazer também foi a principal vítima do orçamento do comerciante Leir Freire Ribeiro. Ele conta que os passeios no fim de semana para Paquetá e para a Feira de São Cristóvão ficaram menos frequentes: 
— Não economizo com comida, mas estou reduzindo gastos com lazer. Não dá mais para sair toda hora.
MERCADO DE TRABALHO MAIS FRACO
A previsão da Tendências Consultoria é que a renda disponível caia este ano 1,9%, após pequena variação de 0,2% no ano passado. Em 2013, também houve redução, de 0,8%. A questão, no entanto, é o momento diferente dos mercados de trabalho e de crédito, destaca o economista João Morais. Naquele ano, a renda disponível recuou diante da disparada no preço de alimentos, mas o cenário seguia forte, com geração de vagas e aumento de renda. Agora, o cenário é outro. Pela última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, a renda foi de R$ 1.840 no primeiro trimestre, estável frente ao primeiro trimestre do ano passado.
— Em 2013, tínhamos crédito farto e uma situação favorável do mercado de trabalho, com crescimento da renda real. Agora, o crédito está mais caro e com restrição ao consumidor, e o mercado de trabalho se deteriorou. A renda disponível caiu no momento em que a renda do trabalhador já é afetada pela piora no mercado de trabalho — aponta Morais.
É o caso vivido por Carolina Rodrigues, que além do salário fixo ganha comissões por metas alcançadas em sua empresa. Desde o ano passado, porém, os objetivos têm sido maiores, tornando mais difícil o cumprimento. 
— Os gastos estão subindo muito e, ao mesmo tempo, minha renda variável diminuiu. Tive que readequar totalmente meu orçamento — conta ela, mãe de dois filhos, de 9 e 15 anos. 
As mudanças incluíram a troca do transporte escolar pelo ônibus do condomínio para os filhos irem ao colégio, a negociação de um desconto na escola, a redução das idas a restaurantes e o corte de viagens em família. Além disso, a família trocou todas as lâmpadas da casa por modelos com uso mais eficiente de energia e passou a tirar da tomada aparelhos elétricos para reduzir o consumo.
PRODUÇÃO DE BENS EM QUEDA
Passar de uma casa com financiamento imobiliário para um apartamento menor e já quitado foi a principal mudança na vida da família do contador e professor de Contabilidade Marcio de Araujo Monteiro em busca de redução de despesas: 
— O orçamento estava cada vez mais apertado e resolvi reduzir despesas para manter a qualidade de vida. O condomínio tem academia e quadra de tênis, que antes pagava à parte. Começamos a frequentar supermercados mais baratos e também não fazemos mais compras por impulso. 
Com as mudanças, será possível manter os planos de viagem no fim do ano.
Nem todos, no entanto, têm conseguido se organizar de tal maneira a manter as compras. E isso se reflete no restante da economia, principalmente na venda de bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos. A produção caiu 16,1% e 22,9% no primeiro trimestre do ano, respectivamente.
— Um aumento de R$ 50 na conta de luz pode significar uma parcela do financiamento de um fogão, por exemplo. As famílias reduzem seu consumo e isso afeta a economia — diz Heron do Carmo.
Colaborou Marta Paes


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