Tipo de Clipping: WEB
Data: 12/06/2015
Veículo: Extra
RIO - Longe de uma direção clara, o noticiário econômico desta quinta-feira apresentou sinais contraditórios. Em um momento de inflação pressionada, a ata do Banco Central sugeriu que mais altas de juros podem vir por aí. Enquanto isso, em Bruxelas, a presidente Dilma Rousseff sugeriu que a população deve continuar consumindo.
Ao mesmo tempo, o mercado ainda digeria o anúncio da véspera de que o BC vai reduzir o ritmo de sua ação no câmbio, o que tende a contribuir para uma alta do dólar. Exatamente do que a presidente Dilma também reclamou: do ajuste cambial e de seu impacto nos preços.
E ainda teve anúncio da Caixa Econômica Federal de que está reduzindo juros do financiamento de veículos em uma parceria com o setor para estimular as vendas. É a mesma Caixa que aumentou as taxas e piorou as condições para o crédito imobiliário há poucas semanas.
— A situação do Brasil no momento é muito complexa. Os sinais não são trocados apenas hoje, isso não é novidade, os sinais serão sempre trocados em momentos de ajuste econômico. É parte do jogo. Isso aconteceu no governo Fernando Henrique Cardoso, no governo Lula e muitas vezes na história econômica. Enquanto perdurar essa transição, com um ajuste que pode ser longo, esses sinais serão trocados — afirma o professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha.
Na sua avaliação, as incongruências são resultado da necessidade de adequar um ajuste econômico, que traz medidas impopulares, ao ambiente político.
— Todo processo de ajuste é traumático. A presidente tem obrigação de dizer em público para as pessoas consumirem mais, embora não necessariamente seja este o discurso do governo — aponta Cunha.
‘NA PRÁTICA É IMPOSSÍVEL’
Para Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio e ex-diretor do BC, o pedido da presidente Dilma para a população consumir mais “na prática é impossível”, diante de um ambiente macroeconômico de elevação da taxa de juros por um lado e de piora na renda por outro.
— A presidente Dilma repete agora o que o presidente Lula falava na crise de 2008, para que as pessoas continuassem consumindo. Só que os momentos são diferentes. Agora, vemos alta de juros e restrição ao consumo. Naquela época, os juros estavam caindo e eram anunciados incentivos ao consumo, como a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) — aponta o economista.
A afirmação de Dilma, segundo Thadeu de Freitas, sugere uma tentativa da presidente em demonstrar que o governo está preocupado com a recessão, em um esforço político em pleno ajuste econômico:
— O Banco Central é o que determina a taxa de juros e ele já deu seu recado de que devem ocorrer novos aumentos. Minha interpretação é de que a presidente quis mostrar que o governo está preocupado com a recessão e quer minimizar a perda da atividade econômica.
Na avaliação do ex-diretor do BC, no entanto, não há contradição entre a preocupação de Dilma com a alta do dólar e o anúncio da autoridade monetária de que vai reduzir a rolagem dos contratos de swap cambial. A valorização da moeda americana era um movimento inevitável, diz ele:
— A alta do dólar é ruim para a inflação, mas é boa para a atividade econômica. Se já existe uma alta de juros que vai agir sobre a inflação, é possível deixar o dólar subir.