Extra

Tipo de Clipping: WEB

Data: 30/09/2016

Veículo: Extra

Candidatos inovam na compra de votos, oferecendo wi-fi grátis e até Viagra
30/09/2016

RIO — Passava das 16h de uma quarta-feira na comunidade Vila Serrana, em Fragoso, no município de Magé, a cerca de 60 quilômetros do Rio, quando uma cena chamou a atenção dos fiscais do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Num cruzamento de ruas estreitas, via-se uma aglomeração de pessoas com celulares nas mãos, em torno de um poste com um roteador e sinal livre de wi-fi. Bastou a fiscalização e a reportagem do GLOBO se aproximarem para cada um tomar seu rumo. Com seus telefones nas mãos, os fiscais logo rastrearam um sinal forte de internet gratuita e constataram a nova prática dos candidatos: oferecer o serviço em troca de votos.

Depois da distribuição de cestas básicas, óculos, dentaduras e até laqueaduras, comuns em eleições anteriores, alguns candidatos que ainda insistem nesse tipo de política assistencialista se ajustaram aos novos tempos. Eles passaram a praticar uma espécie de neoclientelismo, com serviços de wi-fi gratuito e a distribuição de pizzas — com a inscrição do nome do candidato nas caixas de papelão. Entre as práticas flagradas pelos fiscais do TRE, uma chama a atenção: um candidato a vereador distribui caixas de remédios como Viagra e Cialis para a disfunção erétil. 

Reduto do clã Cozzolino, que domina a política local há mais de três décadas, Magé sempre mereceu um olhar mais atento de quem busca reprimir as políticas assistencialistas. O juiz da fiscalização eleitoral da cidade, Vitor Moreira Lima, vem intensificando as ações, pessoalmente, a fim de coibir tais práticas. Lá, a disputa para a prefeitura está acirrada entre dois candidatos: o deputado estadual Renato Cozzolino, pela coligação “O trabalho vai voltar”, e o prefeito Rafael Tubarão (PPS).

Já foram detectados dois pontos de wi-fi gratuito na Vila Serrana. Uma das redes tinha o slogan “Juntos Venceremos” do candidato a vereador Neneco da Limeira, que fazia campanha no dia da operação do TRE.

Neneco nega ser o responsável pelo serviço:

— Foi uma coincidência o nome (da rede) do wi-fi ser justamente o meu slogan. Na minha residência não tem nem sinal de internet. Sei quem pôs o wi-fi, mas não estou aqui para denunciar ninguém. Acho que foi má-fé do outro candidato para me prejudicar. Eles estão usando o meu slogan, tirando minhas placas. Tudo porque estou crescendo nas pesquisas. Ninguém quer se comprometer. Aqui em Magé tem muita covardia. Eles só querem se perpetuar no poder — disse Neneco.

Cinco minutos depois de o TRE ter chegado à Vila Serrana, dominada por uma milícia, o sinal de wi-fi desapareceu. Um rapaz que se beneficiava do serviço, e que pediu para não ser identificado, disse que todos sabiam quem era o candidato. No entanto, afirmou que não podia falar porque tinha “juízo”:

— Está doido! Não digo, não! Não posso nem ser visto conversando com a senhora. Precisa chegar aqui à noite. A rua fica apinhada de gente. Vem morador até de outras favelas — contou o jovem, que está desempregado.

Perguntado se votaria no candidato que ofereceu a rede, o morador disse que não.

CABO ELEITORAL RECEBE CAIXAS COM VIAGRA

A fiscalização eleitoral de Magé informou que está investigando quem é o candidato que está oferecendo a rede, a partir da empresa que está fornecendo o serviço. Há sinais, de que o candidato está pagando à milícia que domina a Vila Serrana para poder oferecer wi-fi aos moradores.

O coordenador eleitoral estadual do TRE-RJ, juiz Marcello Rubioli, disse que a criatividade dos candidatos dificulta o trabalho da fiscalização. Neste mês, fiscais flagraram o candidato Marcus Guedes (PSDB) distribuindo Viagra e Cialis em sua clínica popular na Ilha do Governador. O candidato alegou que cobra R$ 60 pelas consultas. No entanto, o magistrado informou que, embora a clínica estivesse cheia, não havia dinheiro no caixa.

— Trata-se de crime eleitoral para a captação de votos. No caso do médico, há uma simulação de que ele está atendendo as pessoas por força da profissão e distribuindo remédios. Havia tanto amostras grátis, como remédios comuns na clínica. Ele mascara o crime eleitoral — explicou Rubioli.

O GLOBO flagrou Marcus Guedes dando três caixas de remédios a um cabo eleitoral para distribuição, dentro de um estacionamento em frente a clínica. Ao ser questionado por adotar a prática assistencialista, o médico justificou-se:

— Ele pediu os medicamentos para um amigo que sofre com câncer de próstata. Sou médico urologista. É meu ganha pão. As caixas são amostras grátis. Não estou cometendo crime.

Antes de ser flagrado distribuindo os remédios, Marcus disse que deixou a clínica há 15 dias. Confirmou que ofereceu caixas de Cialis e Viagra porque os pacientes tinham problema de disfunção erétil.

ESPECIALISTA VÊ DESESPERANÇA POLÍTICA

Além do flagrante na clínica do urologista, os fiscais da Justiça Eleitoral foram a uma pizzaria, em Curicica, onde encontraram centenas de caixas com o nome do candidato a vereador Mário do Conselho (PRTB). Segundo Rubioli, foi instaurado um procedimento para apurar a denúncia de que ele estaria custeando tanto as embalagens quanto as pizzas. Procurado, o dono da pizzaria não retornou a ligação. O candidato não foi localizado.

— Os eleitores precisam ficar atentos a essas práticas baratas de compra de voto. É importante que ele se conscientize da importância do seu voto para a democracia — comentou o juiz.

Cientista político e professor da PUC-Rio, Ricardo Ismael frisa a importância do voto consciente:

— A prática do assistencialismo configura crime de abuso do poder econômico, e o candidato pode ter sua candidatura até cassada, mesmo se for eleito. A troca de coisas pelo voto é antiga. É evidente que alguns eleitores entendem ser bom negócio essa troca. Infelizmente, nesse caso, ele não acredita que haja políticas para melhorias, a médio e a longo prazo, da saúde e do transporte, por exemplo. Acaba aceitando práticas imediatas, que são proibidas por lei e não pensam na coletividade — disse Ismael: — O eleitor que age assim pensa que é melhor ganhar alguma coisa, porque, depois, não farão nada por ele. É a ideia da desesperança pela política. Do ponto de vista da democracia, ele não qualifica, não renova. Esse eleitor está alimentando esse ciclo vicioso e atrasado.


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