Valor

Tipo de Clipping: WEB

Data: 13/10/2016

Veículo: Valor Econômico

'Nenhum secretário será indicado por partido', diz Freixo
13/10/2016

Candidato da esquerda e do eleitorado jovem, com discurso fortemente ideológico, Marcelo Freixo (Psol), 49 anos, diz que será pragmático na Prefeitura do Rio. Caso eleito, seu secretário de Fazenda será "um técnico", responde de pronto. Para as demais pastas, faz a ousada promessa de não indicar nenhum nome vinculado a partido.

Sobre o PT, que lhe dá apoio no segundo turno, mantém distância de segurança, com mais reprimendas do que afagos. Para Freixo, os petistas perderam a hegemonia da esquerda nestas eleições municipais e, no Rio, há mais tempo.

Também rechaça a presença de políticos em sua propaganda, como os concorrentes do primeiro turno Jandira Feghali (PCdoB) e Alessandro Molon (Rede). "O que as pessoas estão buscando não é isso", justifica, com o desafio de conquistar um eleitorado que já depositou a maioria dos votos em candidatos conservadores.

Com quase metade das intenções de voto do adversário Marcelo Crivella (PRB), Freixo anuncia ao Valor que mudará de estratégia, até agora muito propositiva. Mas prefere não chamá la de campanha negativa, e sim "de identidade": "Vai começar. Estamos estudando".

Para o deputado estadual, a Igreja Universal do Reino de Deus, cujo líder é Edir Macedo, tio de Crivella, é uma "indústria" da fé, e forma   ao lado do ex governador Anthony Garotinho e do ex secretário Rodrigo Bethlem o trio das maiores ameaças numa eventual administração do bispo licenciado.

O candidato do Psol se queixa de que Crivella está fugindo do debate no segundo turno  o adversário já desmarcou idas aos encontros previstos no SBT e na Record. A saída, diz, será reduzir a ampla desvantagem nas pesquisas por meio do programa eleitoral, um latifúndio de 10 minutos comparado aos 11 segundos que teve no primeiro turno.

Ao candidato do PRB o Valor também solicitou entrevista, mas até o fechamento desta edição a assessoria de Crivella não havia acertado uma data.

A seguir, leia os principais trechos da entrevista:

Valor: O senhor tem reclamado de intensa campanha negativa nas redes sociais. Isso parte do Crivella ou de aliados dele?

Freixo: Ah, imagina. Aquilo é uma fortuna, são robôs pagos, são páginas patrocinadas. É um serviço caríssimo. Rede de Whatsapp. Ele finge que não é com ele, que são os outros, o [pastor Silas] Malafaia, o [grupo do deputado Jair] Bolsonaro. É lobo em pele de cordeiro.

Valor: O Malafaia fez vídeos contra vários candidatos de esquerda.

Freixo: Esse eu já processei. Vou entrar agora contra o [ator] Alexandre Frota, que disse, num vídeo, no sábado, que eu tinha de ser morto, exterminado. É muito ódio.

Valor: No segundo turno, o senhor abandonou a nacionalização do discurso e a denúncia do golpe. Quando isso foi decidido?

Freixo: Não faz mais sentido. Continuo tendo a mesma leitura do PMDB, não mudei de opinião, mas não é esta a questão central. A gente sempre se posicionou em relação à pauta nacional, mas a gente não fez parte do governo [do PT]. Ser crítico ao governo Dilma e ser crítico ao processo de impeachment era uma linha tênue, mas muito coerente.

Valor: No primeiro debate, na TV Bandeirantes, o senhor não pressionou Crivella. Isso não passa a ideia de falta de vontade de ganhar?

Freixo: Não, imagina. Ele estava esperando que eu fosse com a faca nos dentes. Para me caracterizar como o cara que não está preparado para governar, que é nervoso, que só sabe brigar, que não tem proposta. Era a isca em que eu não podia cair. Tudo tem seu tempo. Foi o primeiro debate. E ele está fugindo de todos os outros.

Valor: Quando começará a sua campanha negativa?

Freixo: Campanha negativa não. De identidade. Vai começar. Estamos estudando.

Valor: Mas o tempo não é curto para tirar tanta desvantagem?

Freixo: Sim, mas não pode ser errando. Isso vai acontecer. As diferenças vão aparecer nos programas de TV ou nos debates. Ele está dizendo que não vai aos debates. Já desmarcou SBT, Record. Mas posso ir sozinho, já me ofereci inclusive. À RedeTV! não sei se ele não vai. No da Globo ele vai, mas é muito na véspera. Nós vamos fazer a diferença no próprio programa de televisão. Ter a expressão de uma religião, seja qual for, para dominar o Estado, aliado ao que há de pior na política recente, é muito perigoso

Valor: Crivella sempre perdeu disputas majoritárias ao Executivo pelo aumento da rejeição, provocada pela campanha de adversários que o ligaram à Igreja Universal. O senhor já disse que não vai inverter o preconceito e usar a preferência religiosa dele como instrumento político. Por quê?

Freixo: Não ia no início, porque eu preciso ser apresentado. Onde eu não fui bem votado, não fui por desconhecimento.

Valor: E entre os aliados, quem vai aparecer, Jandira por exemplo?

Freixo: Já declararam apoio. Ninguém me pediu isso, não foi pautado. A prioridade é mostrar pessoas e como a gente vai governar. No programa de estreia já teve gente da equipe de governo: o Carlos Vainer [planejamento urbano, do Ippur/UFRJ], a Laura Carvalho [economia, da FEA/USP], o Marcelo Burgos [educação, da PUC Rio]. Teve [o ator] Wagner Moura, [os músicos] Chico Buarque, Caetano, normal.

Valor: E políticos?

Freixo: Não teve.

Valor: Por que tira voto?

Freixo: Não acho que tire voto. Mas o que as pessoas estão buscando não é isso. É mais do que isso.

Valor: O que elas buscam?

Freixo: Algo que é diferente, novo. Acho que a gente tem que dizer quem é o Crivella. O Crivella é esse aqui; com ele tem isso aqui. E ao mesmo tempo dizer que a gente tem governabilidade, e uma forma de governar transparente, eficiente e com participação, com programa, proposta e [mostrar] com quem a gente está.

Valor: Que partidos o senhor. chamaria para governar?

Freixo: Não necessariamente. Precisamos quebrar essa lógica de que para governar tem que comprar a Câmara dos Vereadores. Se não, a gente naturaliza a corrupção.

Valor: Mas é natural que o governante compartilhe o poder com quem o apoia.

Freixo: Mais ou menos. Se você distribui cargos para parentes de vereadores isso não é apoio. A bancada do Psol aumentou em 50%. Foi para seis. A do PMDB diminuiu. A maior parte dos vereadores, até pela forma como são eleitos, quer estar próxima do prefeito, seja qual for. É claro que com o cara que se elegeu pela milícia não tem conversa.

Valor: Qual é o maior risco com uma vitória de Crivella?

Freixo: É a volta do Garotinho, Bethlem e Edir Macedo.

Valor: Qual seria o impacto de o Rio ser o primeiro grande colégio eleitoral governado por um expoente da Igreja Universal?

Freixo: Quero deixar claro que não estou fazendo crítica ao fato de ele ser da Igreja Universal. Não posso inverter o preconceito também. Ele podia ser católico, da umbanda, do candomblé, do que for. Mas ter a expressão de uma religião, seja qual for, para dominar o Estado, aliado ao que há de pior das forças políticas recentes, eu acho muito perigoso.

Valor: A crítica que se faz à Universal não é por ser uma fé, mas por manipular a fé. O senhor concorda?

Freixo: É uma indústria. Acabei de conversar com um amigo que mora em Londres, é ligado ao Partido Trabalhista, e ele falou que a igreja que mais cresce lá é a Universal, por causa de muita assistência aos imigrantes periféricos de Londres. Eu nem sabia disso. É uma multinacional.

Valor: É um risco para a sua campanha levar o debate para esse campo de valores, do comportamento, pois Crivella pode contra atacá lo com questões sobre LGBT, aborto, drogas etc?

Freixo: Ele joga no senso comum. Temos que falar sobre assuntos que são pertinentes à prefeitura. Mas não vou fugir desse debate.

Valor: Como deve ser a educação sexual das crianças nas escolas?

Freixo: Educação sexual não é com as crianças; é com os educadores. Os projetos que a gente defende trabalham com a formação e capacitação dos educadores. Que cada um deles saiba que a sua escola não pode ser espaço para a intolerância e a violência. É igual ao ensino religioso, que é uma lei federal. Não cabe ao prefeito acabar com o ensino religioso. Mas não quero que as crianças da umbanda e do candomblé tenham na escola seu espaço de maior sofrimento de vida. Porque são perseguidos numa aula de ensino religioso que é dogmático. O educador tem que entender que, se tem um aluno gay, não interessa a idade, ele não pode ser discriminado, não pode sofrer violência.

Valor: Esse conteúdo não seria levado para o material didático.

Freixo: Lógico que não. Uma das propagandas que eles fizeram era de um livro didático com cenas de sexo para dizer que eu iria entregar para crianças de 4 anos de idade. Isso beira ao patético. Ou que eu iria transformar a Guarda Municipal em uniforme rosa. Inventaram que o Jean [Wyllys, deputado federal do Psol RJ], defensor dos direitos LGBT] seria secretário [de Educação]; que a Dilma seria a de Fazenda.

Valor: O prefeito Eduardo Paes fez várias obras na esteira da Olimpíada. Que tipo de aproveitamento isso pode ter em seu governo?

Freixo: Nada do que foi feito e está funcionando vai voltar atrás. Onde tem contrato a gente vai cumprir.

Valor: Qual o perfil de um eventual secretário de Fazenda?

Freixo: Técnico. Não será indicação partidária. Não vai ter nenhum secretário indicado por partido político. Nenhum. Não será troca troca. Estamos conversando com várias forças políticas da cidade, com empresários. Tem vários segmentos de empresários nos procurando, para conversar.

Valor: O PT perdeu a hegemonia da esquerda nesta eleição?

Freixo: Acho que sim, no Brasil inteiro, né. E no Rio há mais tempo. Vem se aliando ao PMDB há muitos anos. Participaram do governo Paes, Cabral. No Rio eles não disputam há algum tempo.

Valor: Receia associação ao PT?

Freixo: Não porque eles tinham outra candidatura aqui e nós não éramos do governo da Dilma. O Crivella é que foi ministro, eu não. Crivella tem um vínculo muito maior do que eu.

(Colaboraram Heloisa Magalhães e Robson Sales)


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