Valor

Tipo de Clipping: WEB

Data: 09/11/2016

Veículo: Valor Econômico

Efeito da eleição de Trump no mundo pode afetar Brasil, dizem analistas
09/11/2016

O Brasil não está na agenda de prioridades dos Estados Unidos e, na gestão do presidente Donald Trump, eleito na madrugada desta quarta-feira, isso pode vir a ser uma boa notícia. Imprevisível, protecionista e pouco interessado em parcerias e negociações com outros países, a vitória de Trump não deve representar piora significativa para a relação do Brasil com a maior economia do mundo, simplesmente, porque o Brasil não interessa ao presidente, na visão dos analistas, consultores e pesquisadores ouvidos pelo Valor. Por outro lado, os efeitos da eleição do republicano no mundo podem ter algum impacto na economia brasileira.

Trump não citou o Brasil ao longo de sua campanha. Não tem contatos importantes por aqui nem interesse em assuntos estratégicos que se referiram ao país”, afirma Ricardo Sennes, coordenador-geral do Grupo de Análise da Conjuntural Internacional (Gacint) da Universidade de São Paulo (USP).

Presidente eleito, Trump é mais perigoso para o mundo e para o Brasil do que o teria sido sua adversária, a democrata Hillary Clinton, se não tivesse sido derrotada nas urnas, afirma Fredrik Erixon, diretor do European Centre for International Political Economy (ECIPE). “Ele quer introduzir tarifas de 45% sobre importações originárias da China, quer renegociar o Nafta. Ele não gosta do TPP e não tem nenhuma visão positiva de política comercial para expandir o papel dos EUA em negociações globais”, afirma Erixon.

Um setor que pode sentir efeitos negativos da gestão Trump é o agronegócio brasileiro, na visão de Welber Barral, sócio da Barral M Jorge Consultores e ex-secretário de comércio exterior. Isso porque Trump conta com o apoio dos produtores americanos e tende a imprimir maior protecionismo na Farm Bill, a política americana para agricultura e alimentos, que dura quatro anos e que deve ser revista em 2018. Isso afetaria as exportações brasileiras aos Estados Unidos e também para outros mercados, prevê. “Também pode haver efeitos de preços no mercado internacional, já que os Estados Unidos são competitivos no setor e têm grande volume de produção e consumo. Seriam afetados praticamente todos os produtos agrícolas da pauta brasileira, principalmente soja, algodão, açúcar, milho e etanol”, afirma Barral.

Monica Herz, professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, prevê que o governo Trump não piore a relação dos EUA com o Brasil e a América Latina, mas tenha mais efeitos negativos para a América Central, que tem grande fluxo migratório com os Estados Unidos e é alvo da política anti-imigração defendida pelo empresário.  “Ele vai ter uma política mais isolacionista”, diz Monica. “A América Central é onde ele tem uma política migratória completamente restritiva. É o centro da campanha dele. Vai ter que realizar, provavelmente não como está dizendo, pelo menos em certa medida essas políticas”, afirma a professora da PUC-Rio.

A vitória de Trump traz mais imprevisibilidade aos Estados Unidos, não só em questões comerciais, “mas possivelmente em questões fiscais e monetárias, além de geopolíticas”, afirma João Augusto de Castro Neves, diretor para a América Latina da consultoria de risco político Eurasia Group.

“Um mundo em que as grandes economias desenvolvidas se encontram mais instáveis ou mesmo flertando com o populismo não é boa notícia para um país que necessita implementar um profundo ajuste econômico, como o Brasil”, diz Castro Neves. O risco é que, além de elevar algumas tarifas, Trump tente criar barreiras não-tarifárias também, aponta o consultor da Eurasia Group. Tais possibilidades seriam menores, estima Neves, em dois cenários: caso Trump, uma vez presidente, adote postura mais moderada que a exibida durante a campanha eleitoral; ou que seja moderado pelo Congresso ou outras instituições americanas.

Ricardo Sennes, do Gacint, da USP, pondera que, embora deva ter dificuldades para aprovar uma agenda protecionista no Congresso americano, Trump pode tomar medidas que dependam mais do Executivo do que do Legislativo, como ações no campo da defesa comercial, antidumping, ou mesmo em termos de facilitação de comércio e licenças. “Política externa e política comercial são as áreas em que um presidente tem mais poder de influenciar sem depender muito do Congresso”, diz.

Nesses campos, a previsão de Sennes é que o protecionismo de Trump atinja vários setores no Brasil, “desde aço, soja, carne, até bens de maior valor agregado, como aviões da Embraer e serviços de tecnologia da informação”, afirma o também sócio da consultoria Prospectiva. Ainda assim, no entanto, os efeitos seriam pouco significativos, já que o Brasil não está no foco dos EUA. Sennes vê, porém, o risco de efeitos indiretos, uma vez que o Brasil “depende de um comércio internacional aberto e dinâmico, assim como de ordem política pacífica”, pilares que, na visão de Sennes, estão ameaçados na era Trump.

Na visão de Castro Neves, da Eurasia, a América Latina será uma das poucas regiões mais estáveis econômica e politicamente do mundo, “por incrível que pareça”, diz. O lado “ruim” disso, diz Neves, é que a região não será prioridade dos EUA. “Depois da aproximação com Cuba, a relação dos EUA com a região se dará principalmente pelas vias bilaterais  (México via Nafta, Colômbia em relação à questão de segurança e narcotráfico”, afirma. Para o Brasil, não estar no “radar” de prioridades dos EUA pode ser algo bom. “Poderia dar ao país a oportunidade de traçar projetos no seu entorno, a América do Sul”, diz Neves. “Enquanto achamos que desempenhamos papel crucial na região, nossos vizinhos mantêm uma agenda própria de interação entre eles ou com as principais economias do mundo”, diz.

Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), prevê que a vitória de Trump represente o fim temporário dos Estados Unidos no papel de grande promotor do livre-comércio do planeta, papel que exerce desde o fim da Segunda Guerra Mundial, e “reduz ainda mais as chances de o Brasil assinar algum acordo de livre comércio de peso”.

Para Stuenkel, a eleição de Trump representa o fim definitivo da Parceria Transpacífica (TPP em inglês, Trans-Pacific Partnership), entre os Estados Unidos e várias economias da Ásia. “Este seria um dos principais acordos de livre comércio do século 21. Ele foi assinado, mas precisa ser ratificado pelo Congresso americano. O Trump se colocou de maneira muito clara em relação a isso”, afirma.

Já o embaixador Rubens Barbosa, que dirigiu a embaixada brasileira em Washington entre 1999 e 2004, prevê que o TPP [Acordo Transpacífico], seja aprovado, mesmo com Trump. “Não vai ser aprovado imediatamente, mas ao longo do ano que vem vai ser examinado pelo Congresso [americano] e vai ser aprovado. Isso é de interesse das empresas americanas”, afirma Barbosa.

O embaixador ressalta que, com Trump ou Hillary, a América do Sul continuaria a ser baixa prioridade em termos de política externa para os Estados Unidos. “O impacto vai ser nulo. As relações estão indo bem, tem trânsito de pessoas, mas não tem nenhum fato que coloque a relação com o Brasil em outro nível”, avaliou Barbosa. “O que pode acontecer, se o que está sendo dito na campanha eleitoral se materializar, é que alguns setores que não estão muito competitivos nos Estados Unidos, como aço ou etanol, por exemplo, tenham proteção maior, prejudicando as exportações brasileiras”, diz o embaixador, que considera essa possibilidade pouco provável. “Metade das coisas que ele está falando seriam executáveis”, diz o embaixador.


Mais sobre Valor
Tipo de Clipping: Web Data: 07/06/2019Veículo: Valor Econômico / Cultura e Estilo

Tipo de Clipping: ImpressoData: 05/04/2019Veículo: Valor Econômico

Tipo de Clipping: ImpressoData: 03/04/2019Veículo: Valor Econômico

Tipo de Clipping: WebData: 15/03/2019Veículo: Valor Econômico

Tipo de Clipping: WebData: 12/03/2019Veículo: Valor Econômico

Tipo de Clipping: WebData: 12/03/2019Veículo: Valor Econômico

Veículo: Valor Econômico Seção: Opinião Data: 07/03/2019

Tipo de Clipping: WebData: 27/11/2017Veículo: Valor Econômico

Tipo de Clipping: WEB  Data: 28/07/2017 Veículo: Valor Econômico

Tipo de Clipping: Impresso Data: 28/07/2017 Veículo: Valor Econômico

Tipo de Clipping: WEB Data: 26/07/2017 Veículo: Valor Econômico

Tipo de Clipping: WEBData: 20/07/2017     Veículo: Valor Econômico

Telefones:
(21) 3527-1140 e (21) 99479-1447 | Ramais: 2252, 2245, 2270 e 2246
E-mail:
imprensa.comunicar@puc-rio.br