Valor

Tipo de Clipping: WEB

Data: 11/11/2016

Veículo: Valor Econômico

Fisioterapia econômica
11/11/2016

Monica de Bolle vive com a família em Washington há dois anos. Carioca da Zona Sul do Rio, ela circula pela capital dos Estados Unidos com total intimidade. Passou parte da infância e da adolescência - dos 9 aos 16 anos - por lá e a atual é sua quarta temporada americana, agora trabalhando para o Petersen Institute e dando aulas de teoria monetária na renomada Universidade Johns Hopkins.  Mas Monica não consegue tirar os olhos do Brasil. Por dever profissional - tem como função "cobrir" o país para o Petersen - e curiosidade intelectual. Da combinação das duas coisas surgiu a ideia do livro "Como Matar a Borboleta-azul, uma Crônica da Era Dilma" (Intrínseca), lançado em prestigiadas noites de autógrafos.  Na do Rio, na Livraria Travessa de Ipanema, aguardavam pacientemente na fila personalidades do mundo da economia como Armínio Fraga, Pedro Malan - ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda -, os professores Edmar Bacha e Luiz Roberto Cunha, todos colegas de PUC-RJ e da Casa das Garças, renomado "think tank" do pensamento liberal.

Ainda que a distância, Monica diz que não deixou de acompanhar, praticamente em tempo real, tudo o que ocorreu no Brasil. "Escrevendo para jornais e revistas, além de comentários semanais para clientes, permaneci envolvida com a loucura desses anos. Acho que lá de fora até entendi melhor o Brasil", diz.

Monica vinha com a ideia do livro na cabeça desde 2011, quando "já estava claro que o Brasil não poderia mais surfar em alguma onda do mercado externo e que daquele momento em diante o cenário seria desfavorável. Mas ainda não poderia imaginar que os anos Dilma seriam de tamanho desarranjo".

A economista prevê dois anos difíceis pela frente. Diz que está mais pessimista do que a média dos seus pares. "Vamos ter de aprender a andar com as próprias pernas. Não sei quanto isso vai demorar. Estamos na fase da fisioterapia, para ganhar musculatura. Saiu um governo inoperante e entrou outro com capacidade de fazer alguma coisa. Porém, as reformas propostas são de estrutura, com efeito de mais longo prazo. Não põem dinheiro no bolso do cidadão de imediato, como foi o caso do Plano Real, por exemplo", observa.

Para ela, é natural que existam dúvidas. "As pessoas querem participar mais desse tipo de decisão. A chamada PEC [Proposta de Emenda Constitucional] dos gastos públicos, que limita o crescimento das despesas do governo, é incompreensível para a maioria, embora haja um esforço de comunicação do governo para explicá-la. Será que é suficiente o [Henrique] Meirelles [ministro da Fazenda] fazer um pronunciamento de três minutos em rede nacional de TV?", pondera.

O fato de a economia brasileira não estar enfrentando uma crise de balanço de pagamento, nas contas externas do país, que teria forte impacto sobre o câmbio, tira pressão sobre o governo e dá a sensação de que com uma ou outra reforma a situação se resolve. Mas para Monica de Bolle, se passar a PEC do teto dos gastos públicos e não for aprovada a reforma da Previdência Social, não adiantará muito. "Precisamos dela, porque é uma maneira de desvincular mecanismos de indexação que pesam sobre os gastos públicos."

A ausência de uma crise no balanço de pagamentos não é aval, segundo ela, para que se possa "carregar a crise fiscal por um tempão". "Lembro de uma observação que foi feita certa vez pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: 'Você não é dono do seu destino'. A discussão no mundo hoje envolve mais protecionismo comercial." Isso esteve explícito na campanha presidencial americana "deplorável". Há um sentimento antiglobalização, anticomércio internacional. O Brexit - plebiscito que aprovou a saída da Grã-Bretanha da União Europeia - é reflexo disso, garante. "Uma Inglaterra protecionista, uma idiossincrasia. Assim, a ajuda da área externa para a economia brasileira será muito pouca", afirma. A ideia do novo livro de Monica de Bolle amadureceu em 2013, "quando ficou claro o ápice da loucura, que a política econômica entrara em desordem". Decidiu que não escreveria algo temático, com capítulos separados sobre política monetária, política fiscal etc. "Não queria escrever apenas para meus colegas, decisão que tomei depois de traduzir em 2014 o livro ['O Capital no Século XXI'] do [Thomas] Piketty [polêmico economista francês, que aborda a questão do aumento da desigualdade de renda no planeta]", afirma. " No momento da reeleição de Dilma, a ideia do novo livro estava madura, pois já dava para ver a desconstrução cumulativa. Optei, então, por uma grande crônica. Comecei obedecendo uma certa cronologia, ano a ano, quando, então, o escândalo da Lava-Jato ganhou mais dimensão. Aí parei", explica.

Para a economista, o país enveredou por um embate grande PT versus não PT, esquerda versus direita. No meio dessa polarização, diz, ficou cética. "Quando o Eduardo Cunha, que presidia a Câmara dos Deputados e teve neste ano o mandato cassado, aceitou o pedido de impeachment de Dilma, encontrei um desfecho para livro, acontecesse o que acontecesse. Por isso este meu livro tem um desfecho, mas não tem fim. Encerra com uma fábula, dando margem para um outro livro sobre os anos Temer, que serão também bem interessantes". diz. Ela já tinha 80% do livro pronto quando houve o impeachment de Dilma. "Liguei para a editora e disse a eles que poderia acabá-lo rapidamente.  Está aí agora à disposição dos leitores."

Para Monica de Bolle, o debate atual no Brasil não está ajudando ninguém a se entender. "Estive nas faculdades de economia da USP e da PUC-RJ, falando sobre o livro, que não é anti-PT. Se tivéssemos trocado a Dilma pelo Dilmo, ou por qualquer outro presidente, a economia estaria tão destruída quanto, se o caminho adotado fosse o mesmo. Nem cheguei a tocar na Operação Lava-Jato e na questão da corrupção no livro", assinala.

Depois de alguns dias no Brasil dedicados ao lançamento de seu livro, Monica de Bolle retorna para o seu cotidiano nos Estados Unidos. Vive com a família em uma casa situada no Estado de Maryland, bem na divisa com o Distrito de Colúmbia, onde está a capital Washington. Lá, os dois filhos - um de 10 e outro de 12 anos - repetem, de certa maneira, a vida mais tranquila da sua própria infância, quando ela e a família acompanharam o pai, o também economista Alfredo Baumgarten Junior, na mudança para os Estados Unidos. Os dois filhos de Monica saem sozinhos para andar de bicicleta, sem que a mãe fique em casa preocupada.


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