Folha de SP

Tipo de Clipping: WEB

Data: 24/05/2017

Veículo: Folha de S.Paulo

Mortes: resiliente fundadora da livraria Argumento
24/05/2017

"Quando a vida começar a pesar nos seus ombros, nunca dobre os joelhos, ou você não levanta mais." Essa ode à resiliência era um dos ditos que Dalva Funaro Gasparian mais repetia para seus filhos.

A frase é representativa da mentalidade que orientou a livreira e socióloga, dona da livraria Argumento, no Rio, na qual era possível vê-la diariamente atrás do balcão até dois anos atrás, com 84 anos.

Viúva do empresário, editor e político Fernando Gasparian (1930-2006), Dalva trabalhou com o marido em seus empreendimentos têxteis e editoriais, como o jornal "Opinião", que fundaram nos anos 1970, e a editora Paz e Terra, ambos focos de resistência à ditadura militar.

Filha de um italiano e de uma croata que vieram para o Brasil no início do século 20, nasceu em São Paulo, assim como seu irmão, o empresário e ex-ministro da Fazenda Dilson Funaro (1933-1989).

Estudou piano clássico e pretendia seguir a carreira de concertista, até conhecer Gasparian com quem se casou em 1953. Dedicou-se, então, à criação dos quatro filhos –a diplomata Helena, 62, e os livreiros Laura, 60, Eduardo, 58, e Marcus, 57.

Na década de 1950, foi trabalhar com o marido na fábrica de tecido da família, em Jundiaí (SP), e ajudou-o a desenvolver estampas. Mudaram-se para o Rio nos anos 1960, quando Gasparian comprou a fábrica têxtil América Fabril, que em seu auge chegou a ter mais de 5.000 funcionários.

Uma vez na cidade, Dalva dedicou-se ao trabalho voluntário, que continuaria a fazer ao longo da vida, em instituições como o hospital Pró-Matre, no Rio, e o Centro de Voluntariado de São Paulo.

Era católica praticante, mas acreditava na ciência e na teoria da evolução. Com isso, "muitos amigos e parentes fecharam as portas na época da ditadura, achando que ela era comunista", diz seu filho Eduardo. "Nunca foi filiada a nenhum partido, mas tinha uma profunda noção de justiça social. Passou isso para a gente."

Durante a Ditadura Militar, os Gasparian ajudaram a esconder perseguidos políticos como o deputado Plínio de Arruda Sampaio (1930-2014). "Meu pai teve de parar com a indústria porque o governo cortou o crédito do Banco do Brasil, que era o principal financiador", diz Eduardo. Em 1970, ao saber que o patriarca poderia ser preso por motivos políticos, a família foi para o exílio na Inglaterra. Retornou ao Brasil logo depois, quando fundou o jornal "Opinião".

Gasparian foi o editor entre 1971 e 1975. Dalva ajudava na diagramação. Durante sete anos, o jornal firmou-se como veículo alternativo de críticas ao regime militar, abrigando autores como Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso, Dias Gomes, Alceu Amoroso Lima e Érico Verissimo.

Em 1973, o grupo do "Opinião" assumiu a editora Paz e Terra e deu espaço a autores que eram adversários do regime militar, como o educador Paulo Freire (1921-1997), autor de "Pedagogia do Oprimido". A editora deu prioridade às áreas de filosofia, sociologia e ciência política, tornando-se referência no meio acadêmico.

Ainda nos anos 1970, Dalva decidiu cursar sociologia na PUC. Tinha 44 anos e, após se formar, abriu com o marido a Argumento em São Paulo, em 1978. No ano seguinte, inauguraram a filial carioca –atualmente há duas, no Leblon e na Barra.

"Era uma pessoa de grande refinamento cultural, delicadeza e modéstia", diz o ex-ministro Rubens Ricupero, amigo e cliente da Argumento. "Lembro-me dela sobretudo como uma grande livreira, do tipo que está desaparecendo. Conhecia o gosto dos clientes, ajudava a conseguir obras no exterior."

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso também se manifestou sobre Dalva. "Ela foi colega de ginásio da Ruth [Cardoso], era nossa amiga. Uma pessoa discreta, fina, muito agradável e muito simples. E boa gerente, era ela quem administrava a livraria", disse.

Dalva Gasparian morreu na última sexta (19), aos 86 anos, de falência múltipla dos órgãos. Foi cremada no domingo (21), no Rio. Além dos quatro filhos, deixa 11 netos e uma bisneta.

A missa de 7º dia será realizada nesta quarta (24), às 18h, na igreja Sagrado Coração de Jesus da PUC-Rio.


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