Zero Hora

Tipo de Clipping: WEB

Data: 31/05/2016

Veículo: Zero Hora

Do ofício de traduzir Shakespeare
31/05/2016

Traduzir Shakespeare pode parecer redundante. O excelente site da PUC-Rio, Escolha seu Shakespeare, lista 181 obras do bardo traduzidas no Brasil. Mas isso não significa que o trabalho esteja feito.

Traduções envelhecem, e novas traduções, idealmente, trazem textos distintos, atualizados, aprimorados. Os tradutores vão ganhando material de apoio melhor, como dicionários especializados na obra shakespeariana e o próprio trabalho dos tradutores anteriores, uma fonte valiosa de consulta.

José Roberto O'Shea fala da riqueza do vocabulário de Shakespeare

O primeiro a verter todas as peças de Shakespeare para o português brasileiro, Carlos Alberto Nunes, na década de 1950, teve que lidar com muitas peças inéditas – ele "tirou do barro", como diz José Roberto OShea. Obras completas, aliás, surgiram apenas outras duas: traduzidas por Carlos de Almeida e Oscar Mendes, no final dos anos 1960, e pela crítica Barbara Heliodora, publicada há alguns anos e hoje, enquanto está fora de catálogo, passando por extensa revisão de uma amiga com quem ela, falecida em 2015, trabalhava.

O trabalho de José Roberto OShea mostra como é possível trilhar novos caminhos mesmo com Shakespeare. Quando ele traduziu Antônio e Cleópatra e Cimbeline, Rei da Britânia, as duas peças estavam há 30 anos sem novas versões no Brasil. Sua tradução de O Primeiro Hamlet – In-Quarto, de 1603, era inédita em português (aqui e em outros países), porque os tradutores sempre se debruçaram sobre outras duas versões da obra, de 1604 e de 1623. Há diferenças significativas de estrutura, extensão e falas entre as duas e a traduzida por OShea.

Outro filão se abre com o fato de Shakespeare ser um autor morto que continua a produzir. É que o primeiro catálogo completo das suas obras (o chamado Primeiro Fólio, de 1623), listava 36 peças, que com obras encontradas ou reavaliadas depois se tornaram 38 e, para alguns especialistas, 40 (há controvérsias sobre a autoria). Assim, a peça The Two Noble Kinsmen ainda é inédita em português e está agora no prelo em duas editoras, uma delas trabalhando com a tradução de OShea.

Ainda há a especificidade de a tradução poder ser em prosa (como Beatriz Viégas-Faria, para a editora L&PM), prosa coloquial (caso de Millôr Fernandes), e versos de tipos também variados, como decassílabos (caso dos trabalhos de O¿Shea e Barbara Heliodora) ou decassílabos heroicos. Na dúvida, vale não deixar de consultar o site da PUC-Rio.

***

Abaixo, um trecho do prólogo de Péricles, Príncipe de Tiro, em inglês e na tradução de José Roberto OShea. O trecho supera o complexo desafio de não descaracterizar o texto original e ao mesmo tempo recriá-lo criativamente para que fique eufônico em português.

To sing a song that old was sung,

From ashes ancient Gower is come;

Assuming mans infirmities,

To glad your ear, and please your eyes.

Para cantar canção de outrora

Das cinzas Gower surge agora

Feição mortal tendo assumido

Para alegrar olho e ouvido. (...)

If you, born in these latter times,

When wits more ripe, accept my rhymes.

And that to hear an old man sing

May to your wishes pleasure bring

I life would wish, and that I might

Waste it for you, like taper-light.

Se vós, que nascestes mais tarde,

Mais sábios, a rima aceitardes,

E se ouvir velho cantar

Inda puder vos agradar,

Vida quero ter: serei vela

A iluminar-vos a janela. (...)


This king unto him took a fere,

Who died and left a female heir, (...)

With whom the father liking took,

And her to incest did provoke:

Bad child; worse father! to entice his own

To evil should be done by none:

But custom what they did begin

Was with long use account no sin.

The beauty of this sinful dame

Made many princes thiter frame

O rei buscou a companheira,

Que morreu, deixando uma herdeira, (...)

Por ela o pai se apaixona

E o incesto logo vem à tona.

Má filha, pai pior: ninguém

Conduza ao mal a quem mantém!

Com o tempo, o ato iniciado

Não mais parecia ser pecado.

A beleza da dama incasta

Pra cá muito príncipe arrasta (...)


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