Tipo de Clipping: WEB
Data: 28/07/2017
Veículo: Valor Econômico
A provável extensão do ciclo de alívio monetário, sinalizada na quarta-feira pelo Comitê de Política Monetária (Copom), deverá oferecer algum fôlego à atividade no próximo ano. Embora economistas discordem sobre o quanto essa queda pode ajudar, é consenso que ela dará a sua parcela de contribuição para a retomada da economia em 2018.
"O juro real está baixo para os padrões brasileiros e deve afetar o PIB positivamente", resume o professor da PUC-Rio e economista-chefe da Opus Gestão de Patrimônio, José Marcio Camargo.
Antes da reunião do Copom, que levou a Selic para 9,25%, ele trabalhava com uma estimativa em que a taxa chegaria a 8% no fim deste ano. Mas dado o tom do comunicado, que reflete "uma diretoria bastante tranquila com a inflação e com as expectativas", reduziu essa projeção para 7,5%. Segundo Camargo, ainda é cedo para fazer uma alteração de sua previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2018, mas ele afirma que um crescimento de 2,5% ou até mesmo de 3% não pode ser descartado.
O corte mais intensos dos juros, somado a fatores como o recuo da inflação, deve fazer com que a atividade econômica ganhe força nos últimos meses de 2017, diz Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra. "As famílias vão ter um Natal bem melhor do que nos últimos anos", afirma ele, que calcula que o PIB deve crescer entre 0,5% e 1% neste ano e 2,5%, com viés de alta, no ano que vem.
O Fibra, no entanto, não mudou as suas projeções. O banco calcula desde maio que há 70% de chance de a Selic terminar 2017 em 7% e 30% de acabar entre 6,5% e 6,75%. O segundo cenário só se concretizará se "uma reforma de verdade da previdência for aprovada".
Por isso, Oliveira prefere trabalhar com o quadro em que a Selic chega a 7% - patamar em que permaneceria até o fim de 2018. Se isso acontecer, a taxa estará 7,25 ponto percentual abaixo do nível em que estava no início do ciclo de afrouxamento. Já a taxa real de juros ficará, segundo ele, em 2,7%. "É impossível que isso não tenha um impacto grande nos próximos trimestres, começando a fomentar o consumo, o investimento", afirma.
Mais relevante do que a trajetória exata da Selic, o fator de maior importância para a recuperação da atividade é que a taxa está caindo de maneira sustentável, diz o superintendente de pesquisa macroeconômica Itaú Unibanco, Fernando Gonçalves. Isso ocorre porque, em geral, o recuo da Selic afeta a economia com defasagem, muitas vezes longas. "Esse impacto depende de outros fatores, como o grau de endividamento e a confiança das empresas", afirma. "Neste momento, temos ajustes importantes nos balanços das empresas. E no ano que vem, a situação estará mais sólida."
No Itaú Unibanco, a projeção de crescimento em 2017 é de 0,3% e de 2,7% em 2018. "Parte razoável desse crescimento [em 2018] se deve à estimativa da Selic", explica o especialista. A visão do banco é de que a taxa recuará para 7,5% no fim de 2017 e cairá para 7% no começo de 2018, ficando nesse nível ao longo do ano.
"Não costumamos ver a Selic parada durante muitos meses no mesmo lugar. Se ficar assim, essa também é uma novidade para o Brasil, ainda mais num patamar baixo", afirma Gonçalves.
Embora não tenha influência significativa no chamado PIB potencial - a capacidade estrutural que a economia tem para crescer sem gerar pressões inflacionárias -, o economista-chefe do Banco Pine, Marco Caruso, diz que a queda da Selic é importante para o comportamento cíclico da atividade. Depois de quarta-feira, ele calcula que cresceram as chances de juros na casa de 7%, que ajudariam a fortalecer a demanda agregada.
Renan Silva, estrategista-chefe da BullMark Financial Group, é um pouco menos otimista. Para ele, o aumento da confiança e o recuo do desemprego são condições para que o alívio monetário seja transmitido de forma mais clara para a recuperação econômica.
"É indiscutível que há um efeito positivo de queda mais agressiva dos juros", diz Silva. "Mas o que tenho visto ainda é a manutenção das expectativas para o PIB. Ainda não creio que o mercado se arriscaria a melhorar as estimativas, porque o desemprego está elevado e costuma a ser o último elemento a melhorar."
A leitura do estrategista é de que a taxa básica de juros deve cair até 7,5% no fim deste ano e permanecer nesse patamar até o fim de 2018. Sendo assim, pode contribuir com a desalavancagem das empresas e abrir espaço para novos investimentos. Já para as famílias, ajudaria na redução das dúvidas e no aumento do consumo.
Mauricio Oreng, economista-chefe do Rabobank, também é mais cauteloso. Ele reviu a projeção para a Selic deste ano, de 8% para 7,5%. Também acredita que os 7,5% serão o piso da Selic, mas afirma que "ficou mais provável que ela vá para 7% do que para 8%".
Mesmo assim, essas revisões não foram suficientes para compensar os fatores que jogam contra a recuperação econômica, segundo ele. O Rabobank revisou para baixo nesta semana sua projeção para o PIB do ano que vem, de 2,2% para 1,7%. Neste ano, calcula alta de apenas 0,1%.
O menor otimismo em relação à atividade decorre em grande parte da importância e da imprevisibilidade das eleições do ano que vem, que afetam negativamente os investimentos. "A queda dos juros rema de um lado, mas as eleições remam do outro", afirma.