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Tipo de Clipping: Web

Data: 24/04/2017

Veículo: Extra

Consumo de bebida alcoólica nas universidades divide opiniões e leva a proibições
24/04/2017

RIO - “Considero correta a proibição do consumo de bebida no campus”, afirma Ludmylla. “Mas tem a questão do livre arbítrio num espaço público”, argumenta Gabriel. “Nas festas autorizadas, acho que a venda deve ser permitida, sim”, responde Luan. O debate entre três estudantes da UFF revela que, quando se trata da mistura de álcool com universidade, é difícil encontrar um ponto de equilíbrio. Os excessos são frequentes em eventos como trotes e chopadas. Numa polêmica que vem de anos, instituições como UFRJ e UFRRJ impedem a comercialização de cerveja, vodca e afins em suas dependências, salvo em algumas situações. Mas as transgressões persistem. E quando os alunos não bebem dentro, reúnem-se nos bares do lado de fora das faculdades.

Num desses pontos de encontro, o calouro de Direito Bruno Queiroz, de 18 anos, morreu ao se desequilibrar e ser atropelado por um ônibus em frente à PUC-Rio, na Gávea, logo depois de participar do trote de boas-vindas ao curso, no mês passado. Sem entrarem no mérito se o jovem tinha ou não bebido, os universitários reconhecem os riscos do lugar. Eles se aglomeram na porta de um bar e de uma padaria — recentemente fechada pelo Procon por más condições de higiene — na Rua Marquês de São Vicente. Entre um copo e outro, desde o acidente com Bruno, muitos tentam se manter mais alerta ao trânsito.

— Quando vimos beber aqui, sabemos que aumenta a chance de acidente. O perigo é a rua, porque os carros passam muito rápido, bem perto da calçada — afirma a caloura de Design Giovanna Lira.

Ali, depois das 22h30m, a noite de muitos segue no Baixo Gávea. Estudantes dizem que bebem fora da universidade porque, no campus, só é permitida uma quantidade limitada de álcool às quintas-feiras, na área conhecida como Vila dos Diretórios Acadêmicos. Restrição que encontra a oposição de estudantes.

— Acho que, no campus, a bebida deveria ser liberada alguns dias. Assim, não iríamos para a rua, onde ficamos mais expostos. A universidade é um lugar de estudo, claro. Mas, às vezes, precisamos relaxar — defende Eduardo Seabra, aluno de Administração da PUC-Rio.

SEM MODERAÇÃO

Pesquisadora do Centro Brasileiro de Drogas Psicotrópicas (Cebrid), a professora Zila Sanchez, do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), diz que argumentos parecidos com os de Eduardo são comuns entre estudantes de instituições que coíbem a venda e o consumo de álcool nos campi. Ela afirma, no entanto, que o objetivo não é proibir que o jovem beba. A questão, destaca a especialista, envolve saúde e prevenção de acidentes e brigas.

— Muitas vezes, os universitários não sabem beber. Não é o saber do ponto de vista didático. Em muitos casos, eles querem beber até cair. Percebemos que o padrão de consumo de álcool mais comum entre os universitários é o que chamamos de binge, aquele em que se ingere cinco doses ou mais numa mesma ocasião. Eles não se satisfazem com pouco. Assim como nas baladas em geral, observamos que, na faixa etária dos 20 aos 25 anos, a intenção naquele momento é desligar, ficar embriagado — afirma Zila.

Em 2010, o 1º Levantamento Nacional Sobre o Uso de Álcool, Tabaco e Outras Drogas entre Universitários, feito pela Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas, já havia apontado que 36% dos jovens cursando o ensino superior tinham bebido em “binge” nos 12 meses anteriores à pesquisa. Nos 30 dias que precederam o levantamento, tinham sido 25%. Do total, 18% já haviam dirigido sob efeito de álcool. A idade média para o início do consumo, de acordo com o estudo, é 15,3 anos, embora no Brasil seja vetada a compra de bebidas alcoólicas por menores de 18.

Na UFRJ, a prefeitura universitária proíbe a comercialização e o uso de bebidas em todos os campi. Neles, para a realização de eventos oficiais com consumo de álcool — como as chopadas —, os organizadores precisam comprovar que cumprem exigências que vão de permissão do Corpo de Bombeiros à contratação de serviços de segurança e de ambulâncias. A proibição vale desde 2014, quando um aluno bêbado sofreu um acidente de carro no Fundão. A prefeitura, no entanto, admite que há descumprimentos da norma.

NORMA IGNORADA EM QUIOSQUES

Nos quiosques, lanchonetes e restaurantes autorizados do Fundão, é raro encontrar bebida alcoólica à venda. Os comerciantes afirmam, inclusive, que seus lucros caíram 50% desde que começou a vigorar a restrição. Mas na Praia Vermelha, na Urca, geladeiras de cervejarias, abastecidas com garrafas e latas, ficam expostas em pelo menos duas lanchonetes do campus.

De volta ao Fundão, bares não atrelados à UFRJ, mas dentro da ilha, comercializam latas, garrafas e doses de bebidas. No fim de tarde, vários grupos costumam se reunir num desses estabelecimentos, no local conhecido como Mangue, próximo à reitoria. Além disso, é comum que estudantes levem bebidas e consumam em áreas ao ar livre do campus, como acontece às sextas-feiras no entorno da prefeitura universitária.

— Dentro dos prédios, os seguranças não deixam entrar com bebida. Eu concordo com a restrição. Ela nos protege, inclusive, de agressões na universidade — afirma Alan de Jesus, estudante de Letras/Literatura.

Opinião parecida com a de Letícia Ferreira, aluna de Biomedicina:

— Acho positivo, porque não influencia mais jovens a beber.

Já Thales Porto, estudante de Ciências Contábeis, pondera:

— Aqui é um ambiente educacional. Mas sou a favor do livre arbítrio.

Renata Veloso, que hoje é aluna do mestrado de Farmácia, conta que no fim dos anos 1990, quando ainda cursava a graduação, os estudantes tinham o hábito de beber num bar no Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes). Ela lembra que, numa dessas ocasiões, uma jovem sofreu abusos sexuais. Foi quando baixou a primeira proibição de álcool na universidade:

— Na época, foi lei seca. Com o tempo, no entanto, a fiscalização diminuiu.

NOMES DAS FESTAS DIZEM TUDO

Dentro ou fora dos campi, seja em trotes, chopadas ou baladas, tornaram-se tradição as festas universitárias embaladas por muitas doses. Muitas têm nomes sugestivos. Este mês, a recepção aos calouros de Farmácia da UFRJ, num clube do Centro, foi batizada de “Farmálcool”.

“Vamos começar o semestre com o melhor que sabemos fazer: beber muito e quebrar tudo”, dizia a descrição da festa no Facebook.

Já o evento dos estudantes de Química no Fundão foi o “Diporre induzido”, com uma carta de bebidas que incluía cerveja e catuaba. E a última festa conjunta da Engenharia Civil, das Ciências Contábeis e da Educação Física, duas semanas atrás, ganhou o nome de “Chapa mangue”.

A pesquisadora Zila Sanchez, do Cebrid, lembra que, na maioria dessas festas, o estímulo à bebida (e em grande quantidade) costuma ocorrer até pela forma como ela é distribuída ou vendida, muitas vezes com open bar (bebida liberada) e venda de combos que barateiam o consumo. E na faixa etária predominante entre os universitários, diz ela, a grande preocupação é a intoxicação alcoólica, que pode levar ao coma. Nessa idade, afirma Zila, é raro encontrar casos de dependência do álcool, porém são comuns relatos de “apagões”, quando jovens não se lembram de nada do que aconteceu no período em que estavam bêbados.

— É quando eles ficam mais sujeitos a acidentes, abusos sexuais, exposições em redes sociais... — destaca a pesquisadora, apontando consequências para os que tomam porres constantes. — Estudos apontam que essas intoxicações entre jovens, quando acontecem com mais frequência, aumentam as chances de, no período dos próximos dez anos, eles se tornarem dependentes do álcool. Nesses casos, pode haver complicações no fígado e, num uso mais crônico, comprometimento cognitivo.

BARES FICAM LOTADOS

Bebendo muito ou pouco, mesmo se proibidos dentro dos campi, os estudantes transformam bares, praças e ruas inteiras em points. No Maracanã, há dias em que a Rua Jiquiba, próxima à Universidade Veiga de Almeida, quase fecha ao trânsito de tantos jovens em botecos e barraquinhas que se espalham à noite. Em Duque de Caxias, o entorno da Unigranrio ferve nos bares da Rua Professor José de Souza Herdy, no bairro Vinte e Cinco de Agosto.

Já Ludmylla, Gabriel e Luan, os três amigos da UFF, todos estudantes do Instituto de Arte e Comunicação Social (Iacs), frequentam outro ponto tradicional de happy hour universitário: a Cantareira, uma praça em frente ao campus do Gragoatá, em Niterói. Eles contam que, na Universidade Federal Fluminense, o cerco à bebida tem se fechado. Dentro do campus, dizem eles, são necessárias autorizações. Esse cuidado, no entanto, não impede o registro de imagens como a de uma área da instituição repleta de garrafas e latas vazias após uma festa. A foto circulou este mês nas redes sociais.

Muitas vezes pode ser difícil consumir bebida dentro da universidade, mas, do lado de fora, a Cantareira lota. A praça em frente ao campus atrai alunos da UFF e de universidades particulares próximas, como a Anhanguera e a Estácio. Os bares de todo o entorno ficam cheios. Também há muitos ambulantes, com preços mais baratos que o comum. Por lá, o latão de cerveja custa R$ 4, e o combo de três ices sai por R$ 10, preço de uma única garrafa em eventos fechados.— Toda universidade tem um bar na porta. Saio da faculdade, bebo uma cervejinha e vou para casa “suave”. Não dá para abusar. Mas a universidade também é sinônimo de diversão — afirma Hugo Tenório, estudante de Direito da Universidade Candido Mendes, em Niterói.


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